Os trabalhos de busca, resgate e salvamento seguem nesta terça-feira (21) no litoral norte de São Paulo, onde as fortes chuvas do último fim de semana deixaram dezenas de mortos e desaparecidos.
Boletim divulgado pelo governo de São Paulo às 19h, foram confirmadas 46 mortes em razão dos temporais, sendo 45 em São Sebastião e um em Ubatuba.
Em aproximadamente 24 horas, entre sábado (18) e domingo (19), foram 682 milímetros de chuva na cidade de São Sebastião, o maior acumulado da história do país. O temporal deixou ainda 1.730 pessoas desalojadas e 766 desabrigadas em todo Estado, conforme balanço do começo da tarde desta terça-feira.
O governo de São Paulo decretou estado de calamidade pública, por 180 dias, para ações emergenciais em seis municípios afetados pela chuva: Bertioga, Caraguatatuba, Guarujá, Ilha Bela, São Sebastião e Ubatuba.
Em Ilhabela e em São Sebastião — a cidade mais afetada pelo temporal —, 40 caminhões-tanque realizam o abastecimento emergencial de água até a regularização total dos sistemas. Os técnicos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) trabalham para normalizar os serviços na região.
Mutirão de limpeza e doações
No bairro da Topolândia, em São Sebastião, voluntários trabalhavam com apoio de escavadeiras e caminhões para tirar a lama e o entulho das ruas.
— Hoje, passei o dia todo tirando lama da viela — contou Carlos José de Santana, que mora com a mulher e o filho adolescente em uma das casas atingidas.
Na madrugada de domingo, a família deixou a residência com água acima do joelho. Segundo Carlos, que vive de vender queijo nas praias, eles já desconfiavam que o temporal muito acima do normal poderia trazer problemas.
— Nós não dormimos nessa noite. Ficamos preocupados. Era muita água. Muita água mesmo — lembra.
Mas nem todos os moradores perceberam de antemão o perigo. A estudante Geovana Mandinga, 19 anos, disse que, mesmo com os sinais iniciais, a família não previu que um deslizamento ia destruir a casa onde viviam.
— Lá em cima tem uma barreira de terra que, com a chuva, desceu. Quando eu percebi, eram 3h. Só estava descendo terra. Parecia tranquilo. Só que eu dormi e às 6h eu vi uma casa sendo levada para baixo, a casa da frente — relata.
Apesar de fortemente afetados pela catástrofe, a família ainda encontrou espaço para ser solidária com quem está em situação pior. Geovana levou o excedente das doações que recebeu a uma escola que está abrigando pessoas que também perderam as casas.
— Tudo o que sobrou, que a gente não tem onde colocar, estamos levando para o fundo social. Porque tem muitas famílias que a gente conhece que perderam (tudo) também — diz a jovem, que está temporariamente na residência de parentes.
Durante os trabalhos de limpeza nas ruas do bairro, não param de chegar fardos com água mineral e alimentos que são organizados em casas que não foram atingidas ou em tendas improvisadas, algumas por igrejas.
— Estamos tentando ajudar mais os voluntários e os moradores que estão lá em cima. Eles não conseguem fazer comida, estão sem água — diz Raíssa Morais, moradora há 20 anos da região que faz parte de um dos grupos que organiza as doações.
FGTS e Bolsa Família
O ministro do Desenvolvimento Social (MDS), Wellington Dias, afirmou na segunda-feira (20) que a pasta agilizará o pagamento do Bolsa Família para as vítimas dos temporais no litoral norte de São Paulo.
— Para facilitar para as famílias, o pagamento de março será unificado, feito no dia 20 para todas as famílias dos municípios atingidos e com decreto de emergência e calamidade — disse o ministro.
Dias afirmou que uma aeronave do Exército levará doações para as vítimas. Segundo o ministro, a pasta está em contato com líderes municipais e sociais para providenciar a entrega de cestas de alimentos, colchões e outras necessidades na assistência social.
Ainda na segunda-feira, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou que o governo federal vai liberar o saque de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em virtude da situação de calamidade decretada nos seis municípios paulistas mais atingidos pelas chuvas do fim de semana.
— Essas famílias desabrigadas têm direito a levantamento de FGTS, basta que sejam moradores das regiões que foram afetadas — disse.
— Uma vez decretada calamidade pública, reconhecida pelo governo federal, todos os recursos necessários estão disponíveis — acrescentou a ministra