Um ninho “tamanho família” foi fotografado por um técnico da Emater-RS na Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, na Fronteira Oeste, e chamou a atenção de pesquisadores do projeto RestaurAPA. Os 29 ovos (tão grandes como a palma da mão de um adulto) registrados na imagem acima pertencem a emas - aves típicas do Pampa - e foram localizados em uma propriedade onde são coletadas sementes nativas para o projeto.
A simples existência do ninho - que é comum em campos onde ainda há resquícios de vegetação nativa - é um indicativo de que as ações de proteção estão no caminho certo.
— Esses animais transitam em bandos pelas propriedades. Cada macho forma um harém e faz o ninho, onde as fêmeas botam os ovos. Depois, elas vão embora e fica tudo por conta dele — brinca Rafael Borges, coordenador do projeto na Unilasalle, que também tem a parceria da UFRGS e da Emater-RS.
Cabe ao macho chocar os ovos e, depois, cuidar dos filhotes. Autor da foto, o agrônomo Leonardo Guimarães, extensionista da Emater-RS em Santana do Livramento, conta que, no local, há cercas elétricas que evitam o acesso de javalis, invasores exóticos (e predadores das ninhadas). O terreno também serve como uma espécie de "santuário" de sementes de pasto nativo.
Iniciado em 2021, o projeto RestaurAPA tem como objetivo recuperar áreas de campo nativo degradadas pela espécie invasora capim-annoni (que se multiplica com rapidez e acaba se sobrepondo à flora local). Com financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), a ação envolve 20 pecuaristas cujas propriedades ficam dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, entre os municípios de Alegrete, Quaraí, Rosário do Sul e Santana do Livramento.
A ideia é aliar a recuperação da fauna e da flora nativas a uma maior rentabilidade para os próprios pecuaristas, de forma que o manejo resulte, também, em ganhos para os produtores.
Detalhes do projeto
O aporte de recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) se dá por meio do projeto Estratégias de Conservação, Restauração e Manejo para a biodiversidade da Caatinga, Pampa e Pantanal (GEF Terrestre), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente. A iniciativa tem o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como agência implementadora e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) como agência executora. São R$ 3,1 milhões.
Uma das maiores ameaças para a fauna e flora nativas é o capim-annoni, uma planta invasora de origem africana que foi introduzida no Rio Grande do Sul na década de 1950 e se espalhou pelo Estado, ocasionando prejuízos à biodiversidade nativa e à produção pecuária sustentável.
O capim-annoni tem características como alta produção de sementes e persistência de sementes no solo por longos períodos. Além disso, características como a baixa palatabilidade, baixo potencial nutritivo para o gado e alto teor de fibras, podendo inclusive desgastar a dentição do rebanho e prejudicar a alimentação dos animais, resultam no baixo consumo da espécie, o que favorece a permanência desta no ambiente e aumenta o poder de invasão.
Para saber mais, basta acessar o site restaurapa.org.