Em 4 de setembro de 2014, recebi a incumbência de cobrir a passagem da então candidata à presidência Marina Silva - confirmada nesta quinta-feira (29) como futura ministra do Meio Ambiente - por Porto Alegre. Ela concederia entrevistas ao Grupo RBS e, daquele jeito tranquilo, com a fala pausada, fez apenas um pedido: água quente.
- Só água quente mesmo? - perguntou a colunista Rosane de Oliveira.
Sorrindo, Marina disse que sim: nem chá, nem café e muito menos água gelada. A opção, explicou, fora recomendada por questões de saúde (para dores no nervo ciático), e ela acabou adotando o hábito, muito comum, aliás, nas culturas orientais. Os chineses, em especial, acreditam que o costume faz bem ao organismo.
Não sei o que a ciência ocidental diz sobre isso, mas, a julgar pelo tamanho dos desafios que terá pela frente, Marina vai precisar de muita “água quente” - e tudo mais que puder ajudar.
A ambientalista tem o respeito de quem entende do assunto, de organismos internacionais e da parcela da população brasileira que vê na preservação ambiental um valor (e uma emergência). Marina veio da floresta, foi discípula de Chico Mendes e conhece como poucos o tamanho do problema. É a pessoa certa no lugar certo, mas isso não significa êxito.
Quando chefiou a área no primeiro governo Lula, foi uma voz dissonante ao criticar os impactos do Plano de Aceleração do Crescimento, o famoso PAC, que ergueu hidrelétricas monumentais em plena mata. Acabou pedindo demissão por entender que a pauta ambiental não era prioridade. Depois, ainda viu o PT lhe virar as costas.
Agora, Marina volta ao cargo em um novo contexto, após quatro anos de equívocos e desmandos na área, protagonizados por um governo que não prezou pelo meio ambiente. Ela volta em meio ao agravamento da crise climática, próximo do “ponto de não retorno”, com a missão de cumprir a promessa de Lula na COP27, de zerar o desmatamento até 2030.
Que, ao menos dessa vez, Marina seja ouvida, receba apoio político, não seja traída de novo e tenha a sabedoria necessária para convencer o Brasil de que manter a floresta de pé é melhor - inclusive do ponto de vista econômico - do que destruí-la.