Não há outra forma de iniciar esse texto: desculpe, Seu Jorge. Assisti ao vídeo no qual você fala das ofensas racistas que ouviu no show em Porto Alegre. Você disse que não reconheceu a cidade que aprendeu a respeitar e a amar. Eu também não.
Vi gente justificando o que houve com o argumento de que você se posicionou politicamente e, por isso, "mereceu" os ataques de quem discorda. É triste. Divergências ideológicas não dão a ninguém o direito de agir dessa forma. Não é assim que se responde.
É óbvio que nenhum de nós é obrigado a concordar com a sua opção eleitoral. Somos livres para fazer nossas escolhas e defendê-las, mas nada justifica o que foi relatado: gente na plateia simulou sons de macaco e gritou xingamentos como "negro vagabundo".
A direção do Grêmio Náutico União (GNU), onde ocorreu o show, divulgou uma nota correta, na qual "repudia qualquer tipo de discriminação" e informa estar "apurando os fatos". A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o caso.
Como gaúcha, espero que a história seja tirada a limpo e que a lei seja cumprida. Chegamos ao ponto em que não ser racista é insuficiente. É preciso ser antirracista. Não podemos nos calar quando há indícios de intolerância.
No vídeo, você lembrou nomes da música e da literatura no RS. Disse que temos o "melhor churrasco do mundo". Escolheu aparecer em frente à nossa bandeira e lembrou as palavras estampadas na flâmula rio-grandense: liberdade, igualdade e humanidade. Mais do que nunca, precisamos resgatar esses valores. Seu Jorge, seja qual for o resultado da investigação, por favor, aceite nossas desculpas.