A titular da Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre, delegada Andrea Mattos, vai instaurar inquérito para investigar possíveis atos de racismo contra o cantor Seu Jorge na capital gaúcha. O caso teria ocorrido em uma apresentação do artista na noite de sexta-feira (14). As ofensas contra o músico, que é negro, teriam sido proferidas por parte da plateia presente no clube Grêmio Náutico União (GNU).
Manifestações em redes sociais, confirmadas por GZH com algumas pessoas que compareceram ao evento, indicam que Seu Jorge teria sido hostilizado com gritos de “uh, uh, uh”, simulando o som feito por macacos, além de ter sido xingado com termos como “negro vagabundo” e “preguiçoso”.
No domingo (16), a direção do GNU divulgou nota sobre o caso. O texto assinado pelo presidente do clube, Paulo José Kolberg Bing, diz que está sendo realizada apuração interna. "Se for comprovada a prática de ato racista, os envolvidos serão responsabilizados. Afirmamos que o União, seguindo seu Estatuto e compromisso com associados e sociedade, repudia qualquer tipo de discriminação", diz um trecho do comunicado.
Procurada, a assessoria do músico informou que ele não se manifestaria. Também que não foi feito registro de ocorrência.
A apresentação de Seu Jorge foi marcada para celebrar a reinauguração de um salão, acompanhada de um jantar no clube. Conforme uma empresária de 50 anos da Capital ouvida por GZH, que pede para não ser identificada por temer represálias, tudo corria bem no espetáculo até que o artista chamou ao palco Pedrinho da Serrinha, um prodígio do cavaquinho de 15 anos, e aproveitou o momento para ressaltar as dificuldades de ser jovem e negro no Brasil.
— Seu Jorge, que já tinha recitado um trecho da letra de Negro Drama (música do Racionais MC's), aproveitou a apresentação do adolescente para fazer referência à questão da maioridade penal, mas não fez defesa de nenhum candidato, foi um discurso antirracista apenas — conta a empresária.
Ouça a entrevista da empresária ao programa Timeline:
Em um vídeo que circula nas redes sociais, Seu Jorge eleva o braço direito fazendo o “L”, referência usada para identificar o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no término da sua apresentação. Depois disso, conforme uma pessoa que estava no local ouvida por GZH, teriam surgido gritos de "mito", apelido usado por apoiadores do candidato Jair Bolsonaro (PL).
Em razão desses relatos, uma cópia do inquérito será encaminhada para a Polícia Federal, que é o órgão responsável pelas investigações de possíveis crimes eleitorais.