Com suas cuias de chimarrão e seu sotaque inconfundível, gaúchos que fizeram a vida no Mato Grosso do Sul (MS) se preparam para receber visitantes na nova Rota Gastronômica do Pantanal - com lançamento previsto para dezembro deste ano. São famílias que deixaram o Rio Grande em busca de oportunidades e que hoje comandam fazendas no interior de Miranda, no Pantanal Sul, com uma pegada turística acolhedora e ecológica.
Desenvolvido com apoio do Sebrae e da Fundação de Turismo do Estado, o roteiro conta com 10 paradas, selecionadas por especialistas. Entre elas, está a Pantanal Experiência, que tem 142 hectares e é tocada por Carmen Omizolo, nascida em Erechim. Lá, os turistas acompanham as comitivas pantaneiras (como na novela da TV Globo) e são convidados a provar iguarias locais - com destaque para o filé de pintado com creme de cumbaru.
— A ideia é oferecer aos visitantes uma vivência real. É um turismo diferente. As pessoas se surpreendem — diz Carmen, que migrou para o MS ainda menina, com os pais.
A cerca de 50 quilômetros de distância, Ivone Copetti de Moura e o marido, Noronha de Moura, administram com os filhos o Refúgio da Ilha Ecolodge. A família é de Ijuí e viveu anos em São Borja, até migrar para o MS e apostar no ecoturismo. Com 2 mil hectares de área, em sua maioria alagadiça, o lugar é um santuário.
— Nosso foco é a preservação ambiental. Queremos mostrar a beleza da região e, com nosso jeito gaúcho, receber os visitantes como se fossem da família — conta Ivone, cuja especialidade é um prato à base de purê de moranga, mandioca e carne oreada (semelhante à carne de sol).
Se um dia você fizer a rota, não se surpreenda se for presenteado com um bom churrasco.
A rota
O itinerário tem 10 etapas, incluindo fazendas em Miranda, Aquidauana, Nhecolândia e Corumbá. Foi idealizado pelo chef Paulo Machado, do MS, em parceria com o colega sergipano Moacir Sobral e a jornalista gaúcha Tatiana Feldens.
A inspiração veio dos roteiros gastronômicos da Serra gaúcha, que impressionaram consultoras do Sebrae MS durante a expedição Food Safaris, realizada na região em janeiro. Os detalhes da nova rota serão conhecidos em dezembro.
Um santuário das onças
Com sorte, é possível avistar a presença de um dos mais majestosos animais da fauna brasileira - a onça pintada - no Refúgio da Ilha Ecolodge, comandando por gaúchos no Pantanal Sul. A propriedade conta com um projeto de monitoramento dos felinos e tem 30 exemplares catalogados, vivendo livres na natureza selvagem.
— Às vezes, elas aparecem. É lindo e reforça a importância da conservação. Nós levamos isso muito a sério. Do contrário, em alguns anos não teremos mais Pantanal — diz Ivone Copetti.
O recado também é relevante por mostrar um outro lado do avanço gaúcho nas áreas de floresta do Brasil profundo. Há, sim, gente preocupada com o meio ambiente e a sustentabilidade.
O Pantanal
É considerado pela Unesco uma das mais importantes reservas naturais do mundo. No coração da América do Sul, o Pantanal é a maior extensão alagável contínua do planeta, sendo que 80% de sua área está em território brasileiro e o restante, nos Chacos do Paraguai e da Bolívia.
A comida
Entre as iguarias da região, presentes na Rota Gastronômica do Pantanal (além dos pratos citados ao lado), estão o caldo de piranha do Hotel Pantanal Jungle Lodge e a sopa paraguaia, da Pousada Pequi. São “pratos cheios”, com o perdão do trocadilho, para quem gosta de provar novos sabores.