Motivo de orgulho para os gaúchos, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) celebra o sucesso de um procedimento inédito no Rio Grande do Sul: um transplante de fígado chamado de “dominó”, em que um dos receptores se tornou, também, doador.
Dois bebês - Enrico Bastos Ferro e Ayanna Reis de Brito, ambos com 11 meses (veja nas fotos) - vieram de outros Estados em busca de alento. Deu certo. A operação ocorreu em janeiro, sem intercorrências. Durou 16 horas e envolveu mais de uma dezena de profissionais.
Diagnosticado com uma patologia genética (conhecida pela sigla DXB) que impede o fígado de produzir uma determinada enzima, Enrico recebeu parte do órgão de seu tio, um doador vivo.
Na sequência, o menino nascido em Marabá, no Pará, cedeu - com autorização da família - o próprio fígado (em boas condições) para Ayanna. Natural do município de Lauro de Freitas, na Bahia, a pequena sofria de um tipo de cirrose.
Os dois bebês passam bem, já receberam alta e seguem monitorados de perto pelas equipes do HCPA.
Chefe da Unidade de Gastroenterologia e Hepatologia Pediátrica e coordenadora clínica do programa de Transplante Hepático Infantil da instituição, Sandra Vieira diz que a sobrevida dos pacientes com DXB é similar a de transplantados por outras causas. Ela também ressalta a importância do teste do pezinho ampliado - capaz de detectar enfermidades raras como a de Enrico, possibilitando diagnóstico e tratamento precoces.
A SABER
Idealizado e implementado pela professora Themis Reverbel da Silveira, o Programa de Transplante Hepático Infantil do HCPA, que completa 27 anos no próximo dia 25, é uma das referências nacionais nesse tipo de procedimento.
História de cinema
As famílias de Enrico e Ayanna acabaram se tornando próximas e amigas. Os pais da bebê, Fábio e Marine, não poupam agradecimentos ao HCPA e a Wanderson e Ângela - que aceitaram esperar alguns dias pelo transplante de Enrico, até que a menina tivesse leito garantido na UTI pediátrica.
— Quando chegamos a Porto Alegre, soubemos que só havia um menino na fila de espera na frente dela. Era o Enrico. No fim, com o trabalho excepcional dos médicos, ele salvou a nossa filha — comemora Fábio.
Wanderson nunca imaginou que a cirurgia realizada seria possível:
— O fígado do Enrico era saudável, só que não funcionava para ele. Estamos muito felizes, porque hoje ele está muito bem com o fígado do meu irmão e porque ainda ajudou a Ayanna.
É uma história de filme, né?