O que são 10 anos? Depois que passam, parecem nada. Mas ao mesmo tempo, o que ficou grudado neles significa muito. Pelo menos para quem tem, como eu, a mania de fazer perguntas e guardar coisas. Pois no último dia 9 esta coluna completou 10 anos de publicação. Sim, parece que foi ontem que minha amiga Cláudia Laitano me ligou convidando para fazê-la. O presumível leitor antigo de ZH já me conhecia, pois meus textos sobre música e cultura estão nas páginas do jornal desde 1972, com um hiato entre 1997 e 2012. No total, então, são 35 anos.
Recapitulando, agora, as colunas e os textos publicados nestes 10 anos, me dei conta do quanto tudo foi mudando e mudando. A coluna começou mensal, passando logo a quinzenal. Tive seis editores nesse tempo, com a pandemia da covid produzindo algumas mudanças bruscas. De março de 2013 a março de 2023, comentei uns 850 discos/álbuns digitais/DVDs e 60 livros sobre música. Fiz também cerca de 130 matérias não exatamente ligadas a lançamentos, muitas delas fora da coluna e no caderno DOC. A certa altura de 2021 essas matérias especiais foram interrompidas.
Para configurar o panorama das mudanças, digamos, mais fundas, em janeiro de 2018 a coluna passou a incluir no rodapé a frase “Os álbuns aqui comentados estão disponíveis também nas plataformas digitais”. Ou seja: o CD perdia cada vez mais espaço – até ser praticamente relegado ao nicho cult do vovô LP. Os DVDs também foram sumindo. Em abril de 2020, a coluna registrou o drama que a quarentena trazia à atividade dos músicos com o fechamento de teatros, bares e outros espaços. No fim de 2020, pela primeira vez, não tivemos aqui a retrospectiva do ano, tudo estava meio confuso e os críticos de outros Estados não viam como fazer listas de 10 mais.
Quase esquecia de dizer que esse foi também o tempo do predomínio da música sertaneja, trocentas duplas umas iguais às outras com milhões de seguidores. Nunca escrevi sobre nenhuma. Mas neste momento, pelo que sinto/ouço/vejo, começa a emergir uma reação/rearticulação da MPB, da música instrumental, do pop, da música étnica e dos espaços musicais a elas dedicados. Há um outro clima no ar. Gente nova surgindo no Brasil inteiro, com consciência sobre a história da MPB e de participar dela com ideias novas. Muitos álbuns que tenho comentado são assim.
Dez dias trepidantes
Começam nesta sexta-feira (17), com a volta da Bandaliera no Theatro São Pedro, 10 dias de trepidante atividade musical em Porto Alegre. Sábado (18) tem Zé Ramalho no Auditório Araújo Vianna. Domingo (19), no Bar Opinião, Manu Gavassi, com o show do disco Fruto Proibido, de Rita Lee (1975). Dia 23 tem Duca Leindecker em voz e violão no São Pedro. No mesmo dia, o Bar Ocidente recebe o Tributo Miranda 5 Anos, com DeFalla, Julio Reny, Graforreia Xilarmônica, Atahualpa y us Panquis, Urubu Rei e Gigantes do Rock Gaúcho.
Em reunião também histórica, dia 24 o Almôndegas (foto acima) original se reagrupa e comemora 50 anos no palco do Araújo. Dia 24 é sexta, certo? Pois começa no BarraShoppingSul o 7° POAJazz Festival, que segue até domingo com várias atrações, entre elas Carlos Badia, Cristovão Bastos & Mauro Senise, João Camarero, Jambo Trio, os argentinos Sebastián Machi & Matias Airazu, o holandês Mike Del Ferro. No mesmo dia, a cantora e violonista baiana Josyara se apresenta no Instituto Ling. No dia 25, grandes nomes do nativismo vão se reunir para comemorar os 70 de idade e 60 de carreira de Luiz Carlos Borges, no Rancho Tabacaray. Confira os detalhes diariamente no roteiro do Segundo Caderno.
Yin-yang
O Festival Paulo Moreira congregou dias atrás os principais nomes do jazz e da música instrumental de Porto Alegre em solidariedade ao grande jornalista e radialista.
Foram quatro noites de alta qualidade e emoção. Se eu fosse escolher uma síntese, um símbolo delas, seria esta foto de Daisson Flach, com dois extremos, o mais velho e o mais jovem dos quase 80 participantes: o percussionista Fernando do Ó, 81 anos, e o pianista Cristian Sperandir, 33. Daisson foi feliz ao fixar esse ângulo e produzir a foto que pode ser vista como uma tradução musical do conceito taoista do yin-yang.
