O tempo de Paulinho da Viola é hoje. E neste sábado, dia 12, ele comemora 80 anos na condição de um dos maiores músicos brasileiros. Por conta disso, e de sua simpatia e simplicidade, vem recebendo homenagens. Como dois álbuns instrumentais (!) recém-lançados, ambos com maioria de composições pouco conhecidas: Choro Negro, de Cristóvão Bastos e Mauro Senise, e Ouvindo Paulinho da Viola, de Mário Sève. “Se eu fosse falar alguma coisa, seria para agradecer por tantas coisas legais”, disse ele em entrevista ao jornal O Globo.
Além de longas carreiras solo, Cristóvão (piano, arranjos) e Senise (flauta, sax) estão entre os mais requisitados músicos do país para gravações e shows de outros. O duo assume cinco das 10 músicas, entrando nas outras o contrabaixo de Jeff Lescowich e a percussão de Jurim Moreira. Os temas mais conhecidos são Coração Leviano, Sarau Para Radamés e Choro Negro. Os sambas e choros vêm no geral com uma levada rítmica sutil, como em Um Choro Pro Waldir e em Vinhos Finos... Cristais. O disco tem um up quando se abre mais, no Sarau Para Radamés e em Não Me Digas Não, por exemplo. Eu diria que é um trabalho para aficcionados. Edu Lobo assina o texto do encarte.
Já o de Mário Sève (sax) é pra cima e cheio de músicos como Luciana Rabello (cavaquinho), Luiz Otávio Braga (violão 7), Celsinho Silva (percussão), Dininho (baixo), Kiko Horta (acordeom) e o próprio Cristóvão Bastos. Sève, com Paulinho desde 1976 e uma destacada carreira solo, optou por reunir 12 choros e valsas, com resultado mais melodioso e divertido. Em versões distintas, também estão aqui Choro Negro, Sarau Para Radamés e Um Choro Pro Waldir (parceria de Paulinho com Cristóvão). Entre as outras, duas inéditas, o choro Chuva Grossa Molha Mesmo e a valsa Carinhosa (com Paulinho).
Tchau, Bebeto!
Neste cantinho dou adeus a Bebeto Alves, que conheço há 50 anos – em 1972, procurou-me em ZH com desenhos e poemas para ver se podiam ser publicados. Dois anos depois, estava nas Rodas de Som com o grupo Utopia e uma música que amei e divulguei. Nunca mais nos separamos. Escrevi sobre todos os seus discos. São uns 30, um após o outro se superava, deixando uma obra máxima, que ainda requer reconhecimento maior, principalmente no RS, este Estado sempre tão dividido e incoerente.
Penso que Bebeto foi o mais múltiplo e visceral artista da música gaúcha, em todos os gêneros, em todos os tempos. Fui visitá-lo no hospital na quinta-feira e, embora a dificuldade para falar, o achei bem, rindo. Combinamos que iria visitá-lo de novo quando já estivesse em casa, em São Leopoldo. No domingo, a notícia... Meu coração ainda está muito dolorido.
Um carioca muy uruguaio
O violonista e compositor Edu Aguiar é o carioca mais platino que se conhece. Depois de um longo tempo de maturação, passou meses em Montevidéu gravando com músicos uruguaios o disco Río Adentro, creditado ao Trío Entre Dos Ríos: ele na voz e violões, Gabriela Morgare na voz, Eduardo Mauris na guitarra e violões. Mais vários convidados, entre eles Hugo Fattoruso e Mingo Araújo. São 13 composições de Edu e parceiros, como Fattoruso.
“Río Adentro sai da esfera da MPB purista e vai meio que rompendo algumas fronteiras musicais, adentrando um pouco na sonoridade da ‘estética do frio’, da milonga, não deixando de trazer um tempero a mais”, resume Edu.
A voz de Gabriela é linda, as combinações vocais perfeitas, a instrumentação idem, as letras buenísimas. Títulos: Abrázame, Paz, Al Borde del Río, Mirar Adentro, Lamento de Agosto, Bolsillo de Atrás (um pop que lembra Bebeto Alves). Edu conseguiu o que alguns gaúchos já tentaram, sem sucesso.