Conheço Marcelo Corsetti desde que era um guri de Santa Rosa aprendendo a tocar guitarra. Acompanho de perto a carreira dele, comentei todos os discos a partir do primeiro, em 1992. Poderia dizer que são um melhor que o outro, mas ante o de agora, Kaynakani, essa escala muda de dimensão. Corsetti dá um salto, se supera, unindo suas competências de guitarrista, compositor, arranjador, agregador, líder e até técnico de som – pois neste caso tudo se passa no estúdio dele, o TecAudio, referência em Porto Alegre. Kaynakani (ele também gosta de criar palavras) resulta da passagem de uns 30 músicos pelo TecAudio durante a pandemia. O que se sente, ao ouvir o disco, é uma epifania sonora.
Corsetti foi influenciado por Pat Metheny e o jazz. Mas agora a dimensão é outra. Ele fala do processo de criação no encarte do disco, então compre e leia lá. Aqui, quero dizer que há muito não ouvia nada tão impactante – e bom. Minimalismo com faíscas de rock, melodias que vão e voltam, alto desempenho instrumental com liberdade e ao mesmo tempo sob controle, vocalizes que insinuam e substituem letras... Kaynakani é uma sinfonia em 10 movimentos. Feitos por uma verdadeira seleção: Antônio Flores (coprodutor), Bebeto Alves, Humberto Gessinger, Duca Leindecker, Marcelo Delacroix, Simone Rasslan, Paola Kirst, Mel Souza, Vanessa Longoni, Angelo Primon, Luke Faro, Miguel Tejera...
O CD custa R$ 49,90 e pode ser adquirido no site da produtora.
Liberado: jazz em canções
Uma das referências da guitarra no RS, James Liberato encarou um desafio diferente para fazer seu sexto disco solo, Aos que Chegam. Partiu de canções de Raul Boeira (e parceiros) para criar um belo trabalho instrumental. Conseguiu extrair das melodias e das letras um sentido único, sem perder as essências de uma e outra. Ficou um grande álbum de jazz brasileiro – que tem o samba na genética, visita a milonga e algum molho caribenho. James sabe. Os músicos? Olha: Luiz Mauro Filho, Ricardo Arenhaldt, Claudio Sander, Jorginho do Trompete, Diego Ferreira, Nana Sakamoto, Guilherme Goulart, a cantora Anacris Bizarro. O CD custa R$ 30, e pode ser solicitado diretamente ao músico no e-mail jamesliberato@gmail.com. O álbum também pode ser ouvido no YouTube de James.
Parada traz samba gaúcho
Tempos atrás escrevi que Paulinho Parada não para. Mais uma prova: mal lançou este novo álbum, Sambas para Respirar Melhor, finaliza outro com músicas inéditas de Plauto Cruz (1929-2017). Mas este, cujo título diz tudo, produzido durante a pandemia, reafirma o estilo e a competência do compositor e cantor com 11 sambas de fina identidade tradicional – e dançante. Bom conhecedor da história, Parada diz que, no seu caso, “o relevante é o aprendizado com os músicos da noite de Porto Alegre”. Muito bem gravado, o álbum reúne mais de 20 músicos e convidados especiais, como Elias Barboza, Cabelinho, Eduardo Pitta, Mauro Moura, Tonho Crocco, Sérgio Castanheiras. O disco está disponível nas plataformas digitais.
Maíra vem com Mathias
Socióloga, Maíra Baumgarten se dedica à música desde 2000. Em 2010, criou o Clube da MPB, que desde então circula com sucesso pelos bares de Porto Alegre. Em 2015 lançou seu primeiro disco de cantora, com vários autores, e agora traz o segundo, Rodatempo, composições próprias e parceiros. Produzido pelo bamba Mathias Pinto (também violão, guitarra, bandolim, cavaco), à frente de ótimos músicos, o álbum tem base em samba e samba-canção, com marcas de um espírito porto-alegrense que às vezes lembra Túlio Piva e Lupicínio – como na dor de cotovelo Manias de Amor (de Priscila Meira). Mas não apenas. Entre as presenças, o piano de Marco Farias. Nas plataformas. CD à venda nos shows.
Naddo e seus gigantes
A coisa não é fácil. Com 40 anos de estrada, liderando bandas como Melomaníacos, feito trocentos shows, lançado o elogiado primeiro disco solo em 2014, só agora ele consegue lançar o segundo, Melomania – Vol. 1, à frente de Naddo Entre Gigantes. Partindo do pop-rock, com doses de blues-rock, o som segue cumpridor na potência da banda, na voz particular de Naddo, nas letras incisivas. “Hoje preciso dormir/ Amanhã vou acordar/ Pra tudo de novo”, diz uma delas. “Sentiremos sede/ Comeremos lixo”, diz outra. A banda é Naddo na voz e piano, Luciano Garofalo nas guitarras, Rodrigo Ruivo no baixo, Marcelo Masina na bateria. Mais convidados como Luciano Leães e Giovani Berti. Nas plataformas digitais.