Você já deve ter ouvido discursos inflamados cobrando quem foi favorável ao leilão que repassou o Salgado Filho para a iniciativa privada. A Fraport teria demorado para agir e a Infraero faria a reabertura do aeroporto de uma forma muito mais rápida.
Da mesma forma, essas pessoas podem não ser tão incisivas quando abordam a retomada das estações do Trensurb. A empresa pública só deverá ter de volta o funcionamento de todas as estações de Porto Alegre em 2025.
O mesmo vale para quem reclama da oferta de trens, mas não olha para o número de voos que deixaram de chegar e sair da capital gaúcha. Ambas empresas - Fraport e Trensurb - enfrentam problemas por causa da enchente de maio.
Cada uma lida de um jeito diferente às anomalias que a chuva causou nas suas operações. Se ainda não foi possível reabrir estações do trem ou a pista do aeroporto para pousos e decolagens, as duas buscaram ações que tentam minimizar os transtornos de seus usuários.
É claro que a situação está longe do ideal. Porém, as duas - pública e privada - apresentaram soluções.
A Trensurb reabriu as estações onde o dano foi menor - entre Novo Hamburgo e Canoas. Com seu sistema de bilhetagem afetado, ela não está cobrando passagem dos passageiros. Os custos estão sendo arcados pelo governo federal, seu principal controlador.
Já a Fraport montou um segundo aeroporto na Base Aérea de Canoas. Um balcão de check-in foi montado dentro de um shopping na mesma cidade.
Da mesma forma, é possível ponderar que elas poderiam ter feito mais do que fizeram. A Fraport deveria ter providenciado a retirada da água do aeroporto e não ter esperado apenas por ajuda externa.
A Trensurb poderia agilizar o religamento da energia das suas subestações. Isso permitiria que o trem já pudesse chegar ao menos até a estação Farrapos, em Porto Alegre.
As diferenças de ambas se assemelham em mais um quesito. Tanto a Trensurb quanto a Fraport não querem apressar a retomada das operações sem que haja segurança dos seus usuários.
Concessões podem ser boas ou ruins. Empresas públicas podem ser eficazes ou não. No Rio Grande do Sul mesmo podemos citar exemplos positivos e negativos de negócios que deram certo estando, ou não, 100% mãos de um ente público ou privado.
O que é preciso cobrar é que haja profissionalização dos gestores. Não basta apenas ter como credencial ser um aliado do governante.
As peculiaridades locais também precisam ser avaliadas. A administração de um negócio que deu certo no centro do País ou na Europa pode não ser aplicado aqui. Não existe uma receita de bolo.