Em 1º de janeiro, a Fraport completou quatro anos desde que assumiu a administração do aeroporto Salgado Filho. Desde então, muito tem se falado sobre o futuro do antigo terminal de passageiros, desativado desde setembro de 2019.
Recentemente, a coluna descobriu um plano para transformar o espaço em uma espécie de hostel. Lugares para descanso e banho existem no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, no Aeroporto de Guarulhos e no Aeroporto de Recife. A Fraport nega. Diz que essa possibilidade nunca foi avaliada.
A administradora do Salgado Filho informa que vem sim buscando encontrar empresas que queiram investir no imóvel. Já se discutiu, por exemplo, ter a estação rodoviária de Porto Alegre no local.
"A Fraport está trabalhando no desenvolvimento de real estate no sítio aeroportuário, mas neste momento, não tenho nenhum negócio/parceiro fechado que possa divulgar. O antigo terminal também é uma área que está sendo trabalhada, mas não há definição ainda do que será no local. Estamos trabalhando apenas com possíveis investidores para esta área", informa a empresa.
Mas há uma dificuldade nessa missão, que envolve a obra A Conquista do Espaço. O painel foi pintado em uma das paredes do aeroporto na década de 50. A obra é assinada por Aldo Locatelli, que recebeu parceria de outros dois artistas italianos, Emílio Sessa e Attílio Pisoni. Tombado pelo patrimônio histórico, o painel não pode ser removido, pois é uma pintura feita diretamente na parede.
- É uma espécie de um afresco, afresco é uma técnica italiana mais ou menos parecida com a Santa Ceia. O problema é que ela ocupa um espaço bastante grande e para retirar teria que se fazer um “sanduíche” e retirá-la com guindaste e recortando e seria um processo de alto risco. Eu já avaliei isso pessoalmente porque havia uma ideia do Sinduscon ( Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Estado do Rio Grande do Sul) de transposição dessa obra para o outro aeroporto ou outro lugar, mas era muito arriscado e custoso, não é impossível, mas muito arriscado - informa o engenheiro e coordenador de artes visuais da Secretaria Municipal da Cultura (SMC), Paulo Amaral.
Por causa disso, o imóvel não pode ser destruído. Ou até pode, mas a parede em questão precisa ser preservada, desde que haja proteção.
Em 2019, um acordo homologado na Justiça Federal garantiu a preservação da obra. Dois anos antes, o Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública requerendo que a Infraero - até então responsável pelo aeroporto - preservasse melhor o painel. Segundo os autores da ação, as instalações prediais e mobiliário estariam prejudicando a conservação e reduzindo a visibilidade estética da obra, minimizando sua valorização artística.
A obra
A pintura quase não tem plateia. Apenas funcionários da Fraport e da Aeronáutica frequentam o prédio - além de alguém que queira ir ao local somente para contemplá-la -, e podem vislumbrar essa obra de arte.
Com 50 metros quadrados e finalizada em 1953, o painel faz referências à história da aeronáutica, retratando desde Leonardo da Vinci, que no século 15 projetou uma máquina voadora, a Santos Dumont, conhecido no Brasil como Pai da Aviação.