Já vimos aqui, nesta semana, como a Fraport se organiza para realizar as obras que precisa. Hoje vamos conhecer um pouco do trabalho da CCR Viasul.
Em julho de 2018, depois de 21 anos, chegava ao fim o contrato de concessão da Triunfo Concepa na freeway. A partir de então, foram sete meses de incertezas, que deixaram a rodovia sem conservação. Surpreendido, mesmo sabendo que isso aconteceria, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não conseguiu se organizar minimamente e os buracos se multiplicaram na rodovia.
A partir de fevereiro de 2019, em meio ao veraneio, a CCR ViaSul assumiu a manutenção da rodovia. Foram em torno de oito meses para recuperar a falta de investimento na pista, já que o último ano da Concepa, conforme estipulava o contrato, foi só de conservação superficial.
Neste período, a concessionária construiu as novas praças de pedágio e as bases operacionais previstas, disponibilizou serviços de guincho e ambulância na freeway, BR-386, BR-101 e Rodovia do Parque, recuperou a iluminação nos trechos urbanos destas rodovias.
As melhorias foram entregues antes do prazo previsto. Não foi preciso pedir prorrogação de prazo, mesmo durante o combate ao coronavírus, que tanto prejuízo já trouxe para as construtoras do País, e que também interferem no planejamento da CCR Viasul.
Mas como é possível vencer as etapas de projetos, as aprovações de licenças, se adaptar às variações dos preços do asfalto, e outras dificuldades dificultam a execução dos serviços quando a contratação ocorre diretamente pelo ente público? A partir de agora tento ajudar a desvendar o mistério.
Coluna: por que a CCR ViaSul consegue entregar obra no prazo?
Diretor-presidente da CCR ViaSul, Fausto Camilotti: Temos estrutura para fazer os processos necessários. Quando ganhamos o leilão já sabíamos quais os nossos principais compromissos, já sabíamos as principais obrigações. O setor de engenharia do grupo dá todo o suporte técnico na unidade (do Rio Grande do Sul). Então a gente já tem toda as informações, a estrutura do escopo financeiro, custos de manutenção e operação. Já se sabe quanto posso dar de desconto na tarifa (para vencer a concorrência). Fazemos projeto, encaminhamos para Brasília (ANTT), já contratamos a empresa que executará a obra. Temos uma excelente estrutura de engenharia. E há um rigor da ANTT que faz acompanhamento semanalmente. Temos reuniões e fiscalizações, além de um acompanhamento periódico. Não só no projeto. É um conjunto de elementos, que faz tudo sair bem sucedido.
Coluna: detalhe o planejamento que vocês fazem.
Diretor Fausto: Fazemos etapa por etapa é discutida. Já vem pautado no plano de negócios, que conta com o Evtea (Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental) apresentado pelo governo federal. Quando pego o estudo já olho todas as implicações, impacto ambiental, indígena e de desapropriações. Já vejo o caminho que tenho que percorrer. Facilidade de recurso agiliza. A iniciativa privada tem uma estrutura. Nas minhas obras eu tenho um volume de empresas que eu posso contar. Algumas vezes, a empresa não performa. Só que minha capacidade de troca é rápida.
Coluna: como se consegue cumprir todas as etapas sem atraso?
Diretor Fausto: Gestão. Fazemos reunião toda segunda-feira com o corpo técnico. Olho na obra. Temos ferramentas de gestão para que seja possível reverter problema em uma obra. Temos plano b para resolver. Analisamos preço, prazo, escopo e fazemos o replanejamento para não perder o prazo.
Coluna: o que é feito para impedir atraso e garantir eficiência?
Diretor Fausto: As intempéries são nossa grande inimiga. Calculamos que vai chover três ou quatro meses. E chove seis. O que fazemos? Dobramos o turno, fazemos turno de 24 horas, buscamos produtos que tem cura (secagem) mais rápida do cimento. Dependendo da obra, inicio antes e deixo janelas para períodos que a chuva não interfere (no ritmo dos trabalhos). Montamos um planejamento para vencer o prazo.
Coluna: o que é feito quando é identificado que pode haver atraso?
Diretor Fausto: Em 30 dias, eu consigo trocar uma empresa que está executando uma atividade de médio porte. E, antes de rescindir o contrato, eu já chamei outras empresas e elas já me apresentam seus valores.
Novamente aqui vemos que, para executar uma obra, não basta dinheiro. É preciso monitoramento. Gestão. Saber tomar as providências antes do problema se tornar incorrigível. Que a agilidade das empresas privadas é um sobressalto perante a coisa pública, é então necessário ser ainda mais vigilante e fiscalizador dos projetos que são executados pelos gestores públicos.
Para o segundo ano da concessão estão previstas novas alças na freeway, sendo a de Cachoeirinha a mais aguardada. Já as câmeras de monitoramento vão começar a ser instaladas a partir do ano que vem. Também a partir de 2021 será iniciada a maior obra do contrato: a duplicação dos 232 quilômetros da BR-386, de Carazinho a Canoas. As licenças já estão chegando à concessionária, o que não deverá ser empecilho na hora de iniciar os serviços. A duplicação foi dividida em sete etapas, e será o grande teste pela qual a empresa irá passar no seu primeiro contato com o Rio Grande do Sul. As última ações desta obra se estenderão até 2036.