Convido vocês a voltarem um pouquinho no tempo para entender a promessa e por que nunca acreditei nela. Era final de julho. O ministro da Secretaria Geral de Governo desembarca em Porto Alegre para vistoriar as obras da nova ponte do Guaíba. No final da manhã de 27 de julho, Carlos Marun ouve os técnicos do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
A ideia: finalizar parte da construção até janeiro. Se viabilizada, seria possível permitir que os veículos subissem por uma das tantas alças previstas na freeway e descessem na BR-290, já na Ilha Grande dos Marinheiros.
O cronograma era apertado, mas estava respaldado pelas empresas Queiroz Galvão e EGT, responsáveis pela obra. Para que isso ocorresse, o Dnit precisaria resolver em poucos meses o que não conseguiu em quase quatro anos, quando a obra começou: a remoção de mil casas que interferem diretamente na construção.
A arriscada intenção levava em consideração que as famílias impactadas deixassem a promessa anterior para trás e aceitassem o novo plano já desenvolvido pela autarquia no Rio Grande do Sul em outros reassentamentos.
À espera das licenças necessárias, que ainda percorrem o labirinto da burocracia dentro dos escaninhos da prefeitura de Porto Alegre e do Palácio Piratini, o Dnit até agora não conseguiu iniciar a construção de qualquer um dos três loteamentos previstos. A saída para vencer a estagnação dos projetos tem sido viabilizar a chamada compra assistida. A família escolhe um imóvel regularizado no Rio Grande do Sul ao custo de até R$ 178 mil, o Dnit compra a residência e repassa ao novo proprietário. O casebre na área da nova ponte é demolido e a obra pode seguir em frente.
Marun ouviu atentamente, mas fez uma exigência. A obra precisaria ser entregue um mês antes do estimado e acordado pelas construtoras e Dnit. Dessa forma, o anúncio ganharia as manchetes dos jornais às vésperas da eleição e o presidente Michel Temer conseguiria inaugurar a construção iniciada por Dilma Roussef.
Alertei na época: com tão pouco tempo entre a promessa e a data estimada, o anúncio ficaria apenas na intenção. Não que estivesse torcendo pelo insucesso da construção, mas até hoje a Rodovia do Parque apresenta imperfeições por ter sido estipulada a data de inauguração antes do previsto.
Os técnicos da autarquia e as construtoras começaram a trabalhar no pedido de Marun. Correram contra o tempo e esbarraram novamente na demora para a retirada das famílias.
Em alguns meses, com a mediação da Justiça Federal, até conseguiram viabilizar 216 acordos. A maior parte deles fechada com a intenção da compra assistida. Porém, até a metade de novembro, nenhuma família deixou o local e o prazo estimado ficou apenas na promessa.
Nessa quarta-feira (14), Marun veio vistoriar a obra. E fez o anúncio que ninguém precisou me contar.
Eu já sabia. A inauguração da nova ponte do Guaíba vai ficar para o próximo governo. Pelo bem da segurança dos seus futuros usuários.
Em nota, o ministro respondeu à coluna. Confira a íntegra:
"Desde a primeira vistoria que fiz na obra da nova ponte do Guaíba , no mês de junho, constatei que a entrega daquela obra seria um desafio. Mas assim mesmo, decidi incluí-la no Desafio Chave de Ouro por que vi a possibilidade dela ser entregue se o obstáculo do reassentamento das famílias fosse superado. Já naquele momento, deixei claro que o 'calcanhar de Aquiles' da obra era o reassentamento das famílias. Desde então, a obra ganhou um novo ritmo. Assim como constatei a aceleração das obras, tenho certeza de que a população gaúcha também constatou. A obra passou a andar dia e noite; sábados, domingos e feriados. Todavia, ontem (14), em visita técnica que realizei, ao constatar que nenhuma família tinha sido reassentada, me rendi à realidade de que nós não iremos entregar essa obra à população com a mínima funcionalidade, que seria poder entrar de um lado e sair do outro. O governo Temer não se arrepende de ter priorizado essa obra. O governo manteve o compromisso de investir os recursos suplementares que foram disponibilizados. No entanto, não poderemos atingir o objetivo que gostaríamos, que é entregar a obra completa à população gaúcha. Desde o primeiro momento eu alertei isso e parte do que propusemos está sendo cumprida: a obra está em excelente ritmo e a parte das obras civis ficarão avançadas até o fim deste ano. Quanto ao reassentamento das famílias, que está sendo conduzido em parceria da Justiça Federal com o Ministério Público, o processo tem seus prazos legais para que as etapas avancem."