“Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”.
(Carlos Drummond de Andrade)
Todos nós, ou pelo menos aqueles que racionalizaram as prioridades, aguardamos com expectativa os dias mais leves, ou seja, aqueles em que nos permitimos baixar o nível da adrenalina, atualizar as fofocas com amigos e relaxar, sem culpa por estarmos fazendo nada.
A premência dessa pausa depende criticamente do quanto é prazeroso, ou não, o dia a dia do que fazemos. Os que se encontrarem na vida fazem dela uma alternância de momentos prazerosos com motivações diferentes. Os infelizes, aqueles que foram adiante depois que descobriram que erraram nas escolhas, mas que por comodidade ou inércia não foram capazes de recomeçar e seguiram indiferentes à tortura da rotina massacrante, que o tempo transforma em ódio e depois em desespero.
E tudo porque dependemos da energia propulsora que brota da percepção de que estamos fazendo o melhor que podemos, não importa o que seja.
Os ingênuos atribuem a gênese desse prazer à remuneração, sem nenhuma preocupação de entender porque a taxa de suicídio é mais alta entre executivos bem remunerados do que entre os humildes que ganham o básico para a sobrevivência digna.
Na verdade, como os modelos não são rígidos, não há um manual de instruções de como estabelecer o que cada um precisa para ser feliz, e nos extremos dessa curva comportamental se alojam uns tipos curiosos, desde o acomodado que se contenta com qualquer coisa que não lhe exija nenhum esforço extenuante, e o insaciável, que faz do acumular bens não apenas um objetivo, mas uma obsessão.
O primeiro, subutilizado por opção de vida, em geral está mais disponível para o convívio social e constrói uma rede de amigos, modesta e serena como ele. O outro, pressionado pela ambição, não sossega, considera qualquer recreação como desperdício de um tempo precioso, só constrói amizades com tipos interesseiros e, enclausurado no seu egocentrismo, envelhece sozinho, porque foi incapaz de perceber que mais importante do que acumular é dar sentido à sua riqueza. E todo mundo já sabe que dar sentido à riqueza só é possível ajudando quem não teve igual sorte.
Nesse modelo de vida, hipertensão arterial, sobrepeso e apneia do sono são acompanhantes usuais, e, como a consciência final de que errou na eleição das prioridades será sempre irresgatável, porque não há mais tempo para ser diferente, abre-se a porta da solidão.
Quando nem o afeto comprado a peso de ouro satisfaz, porque não há como negar o quanto é deprimente, a fuga pelo álcool ou outras drogas será mera consequência, e sem companhia de nenhum amigo. Nem aquele companheiro que, na época áurea, elogiava sua impressionante capacidade empreendedora.
Um epílogo triste, que pode ser chamado de tudo, menos de imprevisto.