Passada aquela fase da vida em que não temos ideia do que queremos ser e, com romantismo exagerado, anunciamos o sonho de sermos bombeiros, astronautas ou jogadores de futebol, começa a temporada da incerteza, com períodos sombrios, em que sentimos vontade de confessar a angústia de admitir que não gostamos de coisa nenhuma, pelo menos não dessas que estão por aí.
Os pais de um ou de muitos filhos sabem da aflição do tempo passar, encerrando a inconsequência abençoada da infância, e entrando na interminável adolescência, com nenhuma vocação no horizonte, ainda que o rebento esteja sempre olhando pra lá.
É tão crítica esta ansiedade que, passado um tempo, os pais já admitem que os projetos sonhados para sua prole eram mesmo utópicos, e de bom grado aceitariam alternativas funcionais, quaisquer delas, desde que despertassem paixão nos olhos das suas crias.
A nossa maturidade se anuncia com a percepção de que pessoas diferentes não conseguem se alimentar de sonhos idênticos, e, finalmente, o entendimento de que projetos capazes de acelerar os corações de uns provocam bocejos em outros. E, então, só falta admitirmos que estamos sendo irracionais quando interferimos nas escolhas dos nossos filhos e que temos de parar de pensar por eles com nossas cabeças antiquadas e dar espaço ao novo, porque, como cantou Belchior, “o novo sempre vem”, e quase sempre vence.
Não bastasse a agonia de reconhecer que paternidade rima com, mas não é sinônimo de, propriedade, outras surpresas nos aguardam: uma pena que lá atrás ninguém nos tenha avisado que essa aflição nunca termina e que, definida a profissão, a expectativa recomeça com novos alvos e diferentes trilhas de conquistas, sucesso e frustração. Só então começamos a entender que ser pai é simples. É só estar disponível o tempo todo e sempre.
Mais adiante, com os filhos já encaminhados, é razoável festejar a pausa da acomodação, da qual estão naturalmente excluídos os pais indecisos, esses que tiveram filhos distanciados no tempo, fazendo a preocupação com o destino dos herdeiros retardatários se sobrepor à educação dos netos, que ninguém imaginava, chegam com a insuspeitada função de manter os avós vigilantes com as ameaças novas que, para desespero de todos os responsáveis, não causam nenhum temor nos ameaçados.
Na serenidade da velhice, percebemos que tudo o que vivemos só tinha a missão de completar o ciclo, para no fim nos parecermos tanto com os nossos pais.