Volta e meia sou perguntado sobre o processo de nascimento dos livros. Me perguntam como é trazer uma história à tona, como transformar aquilo que imaginamos em literatura. De que modo as dores e as nossas experiências se tornam ficção? Por muito tempo, acreditei que escrever era mais um trabalho braçal, utilizando técnicas e uma boa dose de disciplina e paciência. Acreditava que qualquer pessoa poderia escrever um romance. Acreditava que todo mundo carrega um livro dentro de si, esperando para ser contado. Ainda acredito nisso.
No entanto, com o passar dos anos, depois de algum tempo trabalhando com a escrita ficcional, comecei a desconfiar de que esses elementos não bastavam para fazer nascer um livro. Havia algo mais que me escapava ao entendimento racional de como os livros nascem. Quando decido levar adiante algum projeto literário, percebo que o que me move a escrever é uma espécie de ideia fixa, alguma tese sobre a vida que toma conta dos meus sentidos, da minha visão, mobiliza meus afetos de tal modo que não tenho como escapar.
Não planejo meus livros. Não há um mapa dos personagens. Não há um roteiro. Não sei o que vai acontecer com a história. Na verdade, eu tenho uma vaga ideia, mas não é nítida. Minhas histórias nascem de acordo com o que vou escrevendo. Dando sentido enquanto o enredo se desenvolve, como na vida em que vamos vivendo e as coisas vão acontecendo. Quando decido fazer nascer um livro, sinto uma urgência. Mas urgência não é pressa. A urgência na criação não tem a ver com velocidade, mas com uma necessidade íntima e incontornável. Uma necessidade que te mobiliza por semanas, meses, às vezes anos. Uma espécie de fanatismo. Uma ideia fixa que só se dissipa quando você decide escrever.
Creio que uma história nasce quando há uma confluência entre tudo aquilo que você viveu, leu ou estudou. Tudo aquilo que está internalizado e num certo momento eclode como literatura. Acredito que todo mundo deveria escrever. Sei que há um discurso de que existem escritores demais no mundo. Discordo. O mundo fica mais amplo quando outros pontos de vista integram nossa visão limitada da realidade. Cada livro que nasce alarga nossa existência.
Acho sinceramente que todo mundo deveria, em algum momento da sua vida, escrever ficção, mesmo que a intenção não seja a de publicar. Nós, como humanidade, só chegamos até aqui porque criamos. A fabulação é tão urgente quanto viver. É a fabulação que dá sentido às coisas. Uma vida sem narrativa é uma vida pobre e incompreensível.