A condenação do ex-policial Derek Chauvin pelo assassinato de George Floyd nos Estados Unidos faz justiça, mas a violência policial segue, tendo ainda corpos negros e periféricos como principal alvo. Um ano após a morte de Floyd, o recrudescimento da brutalidade de policiais continua sendo flagrado em fotos e vídeos. A facilidade de tirar a vida de mulheres e homens negros não é apenas uma escolha pessoal de policiais, mas é, antes de tudo, uma política de Estado.
A solução do problema não é simples, nem pode ser individualizada. Os excessos e a violência de policiais devem ser punidos com rigor. Entretanto, uma sociedade que só pune e não educa transforma policiais em juízes e delega a eles o poder de decidir quem deve morrer. Vigiar e punir pessoas negras com a morte é uma prática que certamente tem seus alicerces na herança escravagista.
Para mudanças efetivas precisamos de mais homens e mulheres negras comprometidos com as pautas antirracistas ocupando espaços de poder e de decisão. Além disso, é necessária maior participação popular na gestão da segurança pública, buscando assim uma polícia menos letal e mais comunitária, que atue de maneira preventiva. Valorizar policiais quanto às políticas salariais, propor novos treinamentos ou protocolos de abordagens e incursões em favelas também são importantes, mas, ainda assim, acredito que há algo mais imprescindível: acabar com a estrutura militarizada que não acredita nos direitos humanos.
Enquanto os direitos humanos forem vistos como um modo de “defender bandido” ou coisa de “comunista” e “esquerdista”, ainda teremos tragédias como a recente chacina do Jacarezinho, uma das operações policiais mais violentas da história do Rio de Janeiro, ou ainda assassinatos como o de João Alberto, morto por seguranças aqui, em Porto Alegre, no supermercado Carrefour. No entanto, no ambiente político em que estamos, não vejo perspectivas de mudanças. E infelizmente ainda veremos outros “Joãos” e “Floyds” pelo caminho.