Lula é um grande orador. Independentemente das opiniões contrárias que pesem sobre ele, é preciso admitir que Lula tem um domínio impressionante da oratória, capaz de mobilizar multidões, ser incisivo, lúcido e, ao mesmo tempo, comover as pessoas.
Ao tornar-se elegível, depois que Fachin, ministro do STF, anulou todas as suas condenações, Lula deu seu primeiro discurso, preciso e contundente. O ex-presidente passou 580 dias preso em uma unidade da Polícia Federal. Ao se pronunciar, esperava-se um discurso marcado pelo ressentimento, no entanto, o que se viu foi o tom de um estadista, que vê a tragédia sanitária, provocada pela covid-19, maior que a sua vida pessoal.
Lula fez o discurso do ano porque deu o tom político. Acendeu o farol e fez as bases bolsonaristas tremerem. E Lula tem força para tanto: defendeu o SUS, a ciência e o auxílio emergencial. Acenou para vários setores da sociedade e, de quebra, forçou a mudança no Ministério da Saúde.
Aos críticos de discursos pró-vida pergunto: desde quando defender o direto à vacina é ser de esquerda? Desde quando defender o fim da pobreza e da miséria é ser petista? Desde quando defender uma educação inclusiva e de qualidade é ser um esquerdopata? Infelizmente nossa política caiu num abismo sem fundo.
Ao compararmos o desempenho discursivo de Lula com o do atual presidente, Bolsonaro está a léguas de distância, com repertório limitadíssimo girando em torno de pautas conservadoras, negacionistas e governando para uma minoria. Sendo assim, Bolsonaro não sustenta um discurso por mais de meia hora, prova disso foi sua fuga dos debates, na última eleição, contra o então candidato Fernando Haddad.
Lula saiu maior ao recuperar seus direitos políticos. No entanto, o único diálogo impossível é com autoritarismo. Há uma falsa ideia de que os discursos de Bolsonaro e Lula apontam para uma polarização. O que me parece um raciocínio raso, pois como escrevi em minha coluna anterior: com negacionista não tem diálogo, se combate. Com ciência e informação confiável.