No mundo há 1,4 milhão de quilômetros de cabos de internet submarinos, que carregam 99% dos dados da internet globalmente.
E eles se tornaram um elemento de disputa geopolítica entre as maiores economias do planeta. E, por outro lado, objeto de investimentos pesados das big techs.
Em maio, companhias de telecomunicações dos Estados Unidos foram alertadas por autoridades locais: os cabos de fibra ótica que atravessam o Oceano Pacífico “estão vulneráveis a danos causados por navios de reparo chineses”.
O detalhe é que são navios contratados para consertos nos próprios cabos; os norte-americanos desconfiam de espionagem, porque algumas dessas embarcações estariam escondendo suas localizações de serviços de rastreamento por rádio e satélite, informou o The Wall Street Journal.
Taiwan já teve cabos cortados quase 30 vezes desde 2018
Não é o primeiro alerta. Em fevereiro de 2023, a Comissão Nacional de Comunicações de Taiwan acusou dois navios chineses, um de pesca e um de carga, de cortarem cabos submarinos de internet, deixando os 14 mil habitantes da ilha de Matsu sem conexão. A China considera que Taiwan, uma nação independente, é parte do seu território, e não raro envia navios e aviões militares próximo da costa, como forma de intimidação.
Os cabos submarinos que atendem a ilha foram cortados 27 vezes entre 2018 e 2023, conforme a Associated Press.
A Suécia também considera que foi proposital o corte de um cabo que ligava o país à Estônia pelo mar Báltico, em outubro de 2023. O professor Hans Liwang, da Universidade de Defesa da Suécia, é um dos diretores de um projeto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que deve ser formalizado no final deste mês em parceria com Estados Unidos, Suíça e Islândia para rotear automaticamente o sinal de internet para satélites, caso cabos sejam danificados. Ele disse à Bloomberg que os riscos vão do corte acidental dos cabos por âncoras de navios “até a sabotagem deliberada”.
Segundo a Otan, o tráfego DIÁRIO em transações financeiras dos países membros equivale a US$ 10 trilhões. A atenção da organização se voltou para o fundo do mar desde a explosão do Nord Stream 2, o duto que levava gás natural da Rússia à Europa, em setembro de 2022.
Big techs vêm fazendo seus próprios investimentos
Para não depender das empresas de telecomunicações, as maiores empresas de tecnologia estão construindo suas próprias redes. Segundo a CNBC, o Google já investiu ou investe em 16 sistemas; a Meta, em 12; Microsoft e Amazon, cada uma, têm cinco cabos.
Até 2025, oito dos novos cabos da Meta estarão operando entre países da Ásia ou ligando Ásia e Estados Unidos; em 2027, mais duas na Europa.
Uma delas é o Echo, um investimento em parceria com o Google anunciado em 2021. O cabo, que vai da Califórnia até Singapura, deve entrar em operação no ano que vem.
Segundo a TeleGeometry, os oceanos da Terra são atravessados por 574 cabos, ativos ou em implementação.
Por que ainda não temos internet por satélite?
Mas por que o planeta Terra ainda depende da fibra ótica? Porque a alternativa, que é a conexão por satélite, ainda é mais cara e mais lenta. O satélite é, no entanto, a melhor alternativa para áreas remotas e com poucos usuários, onde levar o cabo fica mais caro e a conexão, longe de edificações, é melhor.
Isso deve mudar nos próximos anos. A Starlink, de Elon Musk, que já opera no Brasil, está investindo no lançamento de 42 mil satélites, uma verdadeira constelação que vai ampliar muito a conectividade no globo. Já estão em órbita 6.219 deles.