A preocupação com o crescimento de crimes financeiros no Brasil traz esta semana a Porto Alegre três das principais entidades do país que tratam do assunto. Representantes do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam) e da Rede-Lab (Laboratórios de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro) realizarão, nesta quarta-feira (6), um encontro com integrantes do sistema financeiro para tratar dos últimos avanços no setor.
Dados do Coaf apontam que em cinco anos disparou o número de pessoas suspeitas de crimes financeiros. Em 2019, pouco mais de 300 mil pessoas foram identificadas nos Relatórios de Inteligência Financeira (RIF). No ano passado, o número de envolvidos foi de 3,3 milhões de pessoas. Entre janeiro e agosto de 2024, novo aumento: 3,4 milhões de identificados.
No Rio Grande do Sul os casos também chamam a atenção. Este mês, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação contra uma rede de operadores financeiros suspeitos de prestar serviços para facções criminosas em todo o Brasil. Nove cidades gaúchas estiveram entre os alvos de mandados de prisão e busca e apreensão. Vinte pessoas foram detidas.
A Polícia Civil e o Ministério Público Estadual também têm rastreado movimentações do tipo, por meio de seus laboratórios de lavagem de dinheiro.
No encontro em Porto Alegre serão propostas trocas de treinamento e adequação a normas do Banco Central do Brasil (BCB), voltadas ao combate a crimes financeiros. A criação de Parcerias Público-Privadas (PPPs) também é uma das iniciativas que o grupo propõe.
A Abracam coordena o evento na Capital. De acordo com a presidente-executiva da entidade, Kelly Gallego Massaro, a reunião visa ampliar as ações de parceria com empresas da região.
— As empresas do sistema financeiro no Sul vão poder conhecer um selo que desenvolvemos, que coloca todas suas operações em conformidade com as exigências mais rigorosas do BCB no combate à lavagem de dinheiro — define Kelly.
Em 2020, o BCB implementou uma circular que obriga as instituições financeiras a adotar medidas mais rígidas de controle de risco, especialmente contra crimes que envolvam terrorismo e ameaça de armas de destruição em massa. No mês passado, o Departamento de Estado dos EUA, representantes de países da tríplice fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai) e entidades privadas iniciaram um plano para criar PPPs contra crimes financeiros.
A ideia é fechar projetos de cooperação e compartilhamento de informações para produção de Relatórios de Atividades Suspeitas (SARs)/Relatórios de Transações Suspeitas (STRs) mais precisos para as autoridades policiais. A região da tríplice fronteira é uma das principais preocupações da política de antiterrorismo dos EUA na América do Sul, por conta da presença de integrantes do Hezbollah (Partido de Deus, movimento muçulmano libanês considerado terrorista pelas autoridades norte-americanas).