Desencadeada na manhã desta quarta-feira (28), a Operação Escobar cumpriu 48 mandados de busca e apreensão e nove de prisão em oito cidades dos vales do Sinos e Paranhana. A investida, que reuniu 250 agentes, teve como foco o combate ao esquema de lavagem de dinheiro promovido por uma organização criminosa ligada a uma facção sediada no Vale do Sinos. Pelo menos três pessoas foram presas.
De acordo com a Polícia Civil, a investigação sobre o esquema teve início há cerca de um ano, a partir de outra outra apuração, referente a roubos a bancos. À época, os agentes chegaram a nomes de pessoas ligadas ao grupo e identificaram uma série de empresas, bens e automóveis pertencentes aos envolvidos.
Com isso, o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) identificou os 22 investigados, entre membros da organização criminosa e laranjas que se tornaram alvos da Operação Escobar — nomeada assim em alusão ao narcotraficante colombiano Pablo Escobar. A polícia pediu à Justiça o bloqueio de R$ 22 milhões (R$ 1 milhão de cada um dos 22 investigados). Até as 13h, a polícia havia apreendido R$ 27 mil e U$ 2.020 em dinheiro.
Segundo a polícia, alguns dos alvos têm antecedentes por tráfico de drogas, tráfico de armas, extorsão e roubo a estabelecimento comercial. A partir destas informações, foi solicitado o sequestro de 30 veículos e nove imóveis, entres casas e propriedades rurais, em Taquara, no Vale do Paranhana, e Nova Hartz, Sapiranga e São Leopoldo, no Vale do Sinos.
De acordo com a polícia, os criminosos tinham acesso a informações privilegiadas sobre as abordagens policiais efetuadas contra o grupo. Eles também teriam acesso a uma lista de viaturas discretas usadas pela polícia no Vale do Sinos. A origem das informações ainda é desconhecida.
Funcionamento do esquema
A Polícia Civil explica que o esquema funcionava por meio de ocultação e dissimulação de propriedade de bens, como imóveis, incluindo propriedades rurais e automóveis. Foi verificado o uso de contas bancárias para circulação de valores e posterior reintegração, com aparência de licitude.
Empresas também eram usadas no esquema de duas formas: na intermediação da compra e venda de bens móveis para os criminosos por meio de laranjas e também na mescla de valores do faturamento com quantias vindas do crime.
Durante as investigações, a polícia apurou que armas seriam trazidas de outros Estados para abastecer o arsenal da facção e também para revenda. Quem coordenava as remessas de armas e drogas recebidas era o homem de 52 anos apontado como líder do grupo. Ele segue foragido.
A investigação teve acesso a anotações eletrônicas que demostravam carregamentos de dezenas de armas de fogo, que eram escondidas em compartimentos secretos de veículos. A mesma tática era usada para camuflar drogas, que tinham as cargas divididas por peso, em uma espécie de consórcio.
Durante as investigações, foram efetuadas diversas apreensões de armas e drogas:
- Em 25 de setembro de 2023, foram apreendidos aproximadamente, 400 quilos de maconha, em Lajeado, no Vale do Taquari, durante ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Na ocasião, um dos investigados pela Operação Escobar foi preso e, posteriormente, condenado pela Justiça.
- Em 18 de março de 2024, durante outra ação ostensiva da PRF, foram apreendidos 378 quilos de maconha, em Veranópolis, na Serra. Dessa vez, outros dois alvos da operação foram presos. Ambos seguem respondendo ao processo perante à Comarca de Veranópolis.
Empresa de fachada
A investigação também identificou que, ao longo dos meses, grande parte dos investigados seriam empregados de uma empresa de reciclagem de metais, com sede no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, que pertence a um dos alvos da Operação Escobar.
Os rendimentos declarados pela reciclagem eram ínfimos, se comparados ao patrimônio descoberto ao longo das investigações. As movimentações da empresa também seriam incompatíveis com os rendimentos. A apuração da polícia apontou que parte dos trabalhadores que constam no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) seriam, na verdade, “funcionários fantasma”, uma vez que não exerciam funções presenciais na empresa.
Troca de veículos
Os agentes identificaram diversos veículos na posse dos investigados, sendo alguns deles de alto padrão. Conforme a polícia, esses automóveis eram trocados com frequência, com o objetivo de dificultar o monitoramento do grupo pelas forças de segurança.
O proprietário de uma revenda de veículos existente às margens da BR-116, na Rua Ignácio Treis, no bairro Ideal, em Novo Hamburgo, é um dos investigados da ofensiva. Outras revendas também são alvo.
O proprietário de uma holding — empresa que gere outras — está entre os investigados, assim como o próprio empreendimento. A investigação apura se a holding estaria administrando empresas com o objetivo de mesclar a origem ilícita de valores obtidos pela organização criminosa.