Em janeiro de 2016 a jornalista Marta Gleich (hoje diretora-executiva de Jornalismo e Esporte da RBS) saiu vibrando do cinema. Tinha acabado de assistir a Spotlight, filme sobre a equipe de jornalismo investigativo do jornal norte-americano Boston Globe, que viria a ganhar o Oscar de melhor filme naquele ano. De imediato teve a ideia de montar um grupo similar na RBS. Ousadia, porque, afinal, se trata de um grupo regional de comunicação, e investigar não sai barato.
Diversas reuniões depois, a ideia se consolidou. Afinal, investigação faz parte do DNA da RBS, cujos jornalistas foram vencedores, em sua história, de vários dos mais importantes prêmios do país e inclusive alguns internacionais. Mas faltava um grupo capaz de dedicar a maior parte do seu tempo a apurações aprofundadas, que não fosse engolfado pelo cotidiano frenético das notícias diárias. Estava lançada a semente do Grupo de Investigação da RBS (GDI), que debutou em dezembro de 2016, com uma reportagem sobre contrabando e uso de agrotóxicos proibidos nas lavouras gaúchas.
O GDI conta com integrantes de Zero Hora, RBS TV, Rádio Gaúcha e Diário Gaúcho, cada um com habilidade em diferentes áreas. Por vezes a reportagem sai num só veículo, mas algumas envolvem todos. Só no primeiro ano de existência foram veiculadas 31 investigações, que motivaram abertura de 29 apurações por parte de polícias e Ministério Público. E a produtividade é alta, mesmo com adventos como pandemia e enchente. Os integrantes do grupo se revezam entre assuntos cotidianos e reportagens aprofundadas, que são priorizadas.
Entre os assuntos abordados nesses quase oito anos se destacam alguns:
- Fraudes em concursos públicos
- Tráfico de armas
- Venda de loteamentos em áreas verdes, onde é proibido construir
- Comercialização ilegal de residências do Minha Casa Minha Vida
- Pirataria de dados privados de aposentados, para realizar empréstimos consignados, sem licença ou conhecimento do credor
- Corrupção no setor público
- Faculdades que só existem no papel
- Médicos que burlam o ponto e não comparecem no serviço público
- Cobrança irregular de serviços de saúde que deveriam ser custeados pelo poder público
- Retirada de benefícios destinados a pessoas carentes, como o Auxílio Emergencial, por parte de pessoas abonadas
- Falcatruas no programa Farmácia Popular
- Venda de donativos para as enchentes por parte de intermediários desonestos
Algumas dessas reportagens — e dos primórdios da investigação na RBS — são relembradas no livro GDI: Bastidores e Prática do Jornalismo Investigativo, que será lançado na segunda-feira (15), a partir das 18h30min, no foyer do Theatro São Pedro, em Porto Alegre (Praça Marechal Deodoro, s/nº), junto a uma sessão de autógrafos aberta ao público. A partir das 18h30min. Participam da obra alguns repórteres, jornalistas que estiveram e estão à frente do grupo e integrantes do Conselho Editorial da RBS.