A atuação das polícias na catástrofe que abala o Rio Grande do Sul a partir da enchente de maio será tema de conferência internacional, este ano. O delegado da Polícia Civil gaúcha Bolívar Llantada (chefe da Coordenadoria de Recursos Especiais — Core — uma espécie de grupo de elite da corporação) e o Inspetor Marcus Vinícius Silva de Almeida, Diretor de Operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), vão palestrar a respeito da emergência que vivenciaram por mais de um mês. Será durante o COP Internacional, maior evento latino-americano voltado para a atividade policial, que acontece de 16 a 18 de outubro em São Paulo.
E há muito o que relatar. Em 15 dias, o Core realizou 700 salvamentos com helicópteros e barcos, num total de quase 4 mil vidas resgatadas (entre humanos e animais). O grupamento agiu primeiro no Vale do Rio Pardo e depois se deslocou para cidades do Vale do Taquari e Grande Porto Alegre, à medida em que as urgências atingiam essas regiões. As intervenções eram feitas por meio da Divisão de Operações Aéreas ( DOA) e do Grupo de Resgate e Intervenção (GRI).
— Os salvamentos foram a primeira fase do trabalho operacional da Core e de outras forças de segurança, como os bombeiros, Brigada Militar, entidades civis e segmento privado.
Com a redução do nível das águas, as forças de segurança se voltaram para sua missão principal: repressão ao crime. Com prioridade para os saques que atormentavam a população, ressaltam Bolívar e Marcus Vinícius, coordenador operacional nacional da PRF, um baiano que praticamente se mudou para o Rio Grande do Sul durante a tragédia climática.
A PRF atuou como um bombril, aquele com mil e uma utilidades. Fez desde a sinalização de rodovias destruídas até o salvamento fluvial, utilizando seu grupo de resposta rápida e operações especiais. Agiu assim em áreas críticas, centralizando operações em torno de cidades-polos como Lajeado, Bento Gonçalves, Porto Alegre e Canoas.
Para Marcus Vinícius, a experiência da corporação em lidar com diferentes climas e terrenos foi essencial para a eficácia das operações.
— A PRF não atuou apenas no controle das rodovias, mas também desempenhou um papel crucial nos salvamentos e em mais de 2 mil escoltas de donativos e medicamentos — informa.
Passado o primeiro momento de salvamentos, iniciaram as etapas de patrulhas fluviais, veiculares e terrestres para dar proteção às pessoas e ao patrimônio da população em áreas ainda alagadas, além do acompanhamento de emergências nas regiões de Pelotas e Rio Grande, que sofreram alagamentos em meados de maio.
Uma das missões da Core foi participar da prisão de saqueadores em Eldorado do Sul, um dos municípios mais atingido pela enchente, com 80% das residências alagadas. Para os próximos dias, a previsão da Core é apoiar as polícias em patrulhas noturnas e outras ações planejadas, como o cumprimento de mandados de busca, capturas, prisões, patrulhas de risco em áreas conflagradas e em possíveis resgates, caso ainda seja necessário.
Tanto Bolívar como Marcus Vinícius pretendem salientar a completa integração das forças de segurança durante a calamidade. O diretor da PRF lembra que sua corporação atuou num Gabinete de Gestão Integrada, com participação da Defesa Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Polícia Federal, entre outras entidades.
— Não existe segurança pública de qualidade sem a integração dos órgãos. E isso está sendo feito — resume.
Bolívar ressalta que a Core recebeu apoio de diversos grupos táticos do Brasil, dentre os quais as Core de Santa Catarina, Minas Gerais e Rio de Janeiro, do Cope e Tigre (grupos de elite da Polícia Civil do Paraná), do Grupo Especial de Reação (GER) da Polícia Civil paulista, da Força Especial de Resgate e Assalto (Fera, do Amazonas) e do Departamento de Operações Especiais ( DOE) do Distrito Federal.
Marcus Vinícius lamenta que um efeito colateral da enchente começa a se manifestar: aumento de transporte de drogas no atacado pelas rodovias que levam às fronteiras. E a PRF está focada nisso, assim como na sinalização das centenas de pontos com tráfego precarizado pelas cheias.
As palestras serão na COP Internacional, que congrega policiais de todo o Brasil, com palestrantes internacionais. É um evento gratuito, aberto ao público a partir dos 18 anos e já está com inscrições abertas pelo site do evento.