O Rio Grande do Sul registrou desde o início das inundações que atingem 469 municípios gaúchos até o momento 172 prisões. Dessas, 63 foram realizadas nos abrigos onde estão as pessoas que precisaram deixar suas casas. Por crimes patrimoniais, que envolvem, entre outros, saques e furtos, foram 56 pessoas presas. Os dados são da Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado.
Um dos pontos de preocupação desde o início das inundações são os saques a comércios e residências. Eldorado do Sul, na Região Metropolitana, município severamente atingido pela enchente, foram registrados casos de ataques a empresas. Um supermercado chegou a ser saqueado. No início de maio, criminosos levaram tratores de uma empresa. Uma fábrica de alimentos, na zona industrial, também foi alvo de bandidos.
No início de maio, foi necessário usar uma aeronave do Exército para levar os policiais até a cidade, enquanto o acesso só era possível pelo ar ou pelas águas. O policiamento ainda é realizado em algumas regiões de Eldorado de forma embarcada. Essa foi uma estratégia adotada em outros locais também inundados, como na zona norte de Porto Alegre, em Guaíba, São Leopoldo, Canoas e na região das Ilhas, entre outros.
A situação atualmente, segundo o comando-geral da BM, é bastante diferente do início das inundações, quando as ocorrências eram mais frequentes.
— Os saques ocorreram naquele primeiro momento, em que não se tinha condições de chegar até o local para atender ocorrência. O cenário crítico em relação à segurança que se alardeou num primeiro momento não se confirmou. Até pela quantidade de efetivo e mobilização que a BM e a Polícia Civil fizeram. Todos que vieram inclusive de outros Estados. O que estamos vendo é uma resposta efetiva, diante da quantidade de prisões que existem. A tendência é de que as coisas se normalizem a partir de agora — avalia o comandante-geral da BM, coronel Cláudio dos Santos Feoli.
Uma das preocupações neste momento é em manter a segurança das pessoas que estão retornando para casa após a água baixar. Entre as áreas que mais demandam a presença policial ainda estão Canoas, especialmente no bairro Mathias Velho, em Porto Alegre, nos bairros Humaitá e Vila Farrapos, e outras cidades da Região Metropolitana. Em Canoas, durante os resgates, equipes policiais realizaram segurança de voluntários, após relatos da presença de bandidos armados e de roubos de embarcações. O objetivo é ocupar esses mesmos locais, com o policiamento.
— Temos um planejamento de ocupação policial dessas áreas que vão desalagar. Queremos manter uma presença muito forte da BM e dos apoios recebidos — explica Feoli.
A BM recebeu policiais de Estados como Santa Catarina, Paraná, Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal e São Paulo. Nesta terça-feira (28) desembarcam mais 150 PMs paulistas, que se juntam ao que já estavam atuando no RS, num total de 206. Os reforços de fora somam cerca de 550 policiais. A Força Nacional também enviou 165 PMs ao Estado.
Para tentar coibir a incidência de crimes nas áreas atingidas, onde havia relatos inclusive da atuação de grupos criminosos, a Polícia Civil adotou a Operação Noite Segura, na qual a cada dia um departamento é responsável pelo patrulhamento entre 18h e 7h.
— Essas prisões por crimes patrimoniais relacionadas à enchente são muitas decorrentes das operações que temos feito. Desde o início temos realizado rondas, com viaturas e embarcações. As ocorrências registras estão sendo investigadas, algumas já com retornos e prisões e apreensões de objetos recuperados — afirma a diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, delegada Adriana Regina da Costa.
Em Cachoeirinha, nesta semana, após receber uma informação anônima, a Polícia Civil apreendeu, dentro de um abrigo, mercadorias que foram furtadas na loja do Grêmio na Arena, no início do mês. Os produtos estavam com as etiquetas da loja, com valores e com dispositivos de segurança. Os itens, como camisetas, bonés e outros, têm valor estimado em cerca de R$ 10 mil. Segundo o delegado André Lobo Anicet, as pessoas que estavam com os materiais não foram presas porque ainda não existia ocorrência de furto das mercadorias.
Atenção aos abrigos
Atualmente, segundo o governo do Estado, há 48.789 pessoas em abrigos. Foram montados cerca de 800 locais para abrigamento no RS. Entre os que mais recebeu abrigados, a Ulbra, em Canoas, é um dos pontos que ainda concentra boa parte do policiamento. Somente da BM, são 60 policiais da reserva – que foram chamados por meio do programa Mais Efetivo. A BM implementou ainda a chamada Patrulha Abrigo para verificar a situação em cada um deles diariamente e entender qual necessita de maior atenção.
— O que faz esse número de prisões em abrigos ser alto é justamente a presença policial. Qualquer irregularidade que se constate é imediatamente informada aos policiais. Os mesmos delitos e crimes que se cometiam nas comunidades, nos locais atingidos, se cometem ali, até de maneira potencializada, em razão da proximidade das pessoas e dos ânimos que se acirram — afirma Feoli.
Das 63 prisões registradas nesses locais, parte envolve casos de crimes sexuais. Além do policiamento que permanece nos abrigos, são realizadas rondas das forças de segurança para ouvir e orientar as pessoas abrigadas e dos voluntários. Uma das medidas implementadas foi a criação de abrigos somente para mulheres e crianças como forma de tentar prevenir crimes de gênero.
— Temos rondas pelas delegacias diariamente nos abrigos, com apoio da volante e de policiais civis de outros Estados, que estão colaborando. Muitos casos são de crimes que já acontecendo nas comunidades, e que foram agora descobertos. Casos de violência doméstica e de crime sexual — afirma a delegada Adriana.
Os locais de abrigamento registram também outros tipos de ocorrências, como furtos e brigas. Em São Leopoldo, no Vale do Sinos, a Polícia Civil identificou um sistema de telentrega de drogas para abrigos. Um homem foi preso em flagrante pelo crime. As entregas eram realizadas em São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Esteio. Os usuários, abrigados, realizavam a encomenda por WhatsApp.
Policiais afetados
Entre os servidores da BM e da Polícia Civil que seguem trabalhando no Estado, mais 1 mil foram afetados também em suas vidas particulares. Por parte da BM, ao menos 800 policiais militares foram diretamente atingidos pelas inundações. Desses, metade, ou seja, cerca de 400, perderam, inclusive, as casas.
A instituição lançou, inclusive, uma campanha para tentar arrecadar valores para auxiliar os policiais neste recomeço. Até o momento, foram arrecadados cerca de R$ 230 mil. A doação pode ser feita por meio do Pix administrativo@fundacaobm.org.br. Na Polícia Civil, o número é de cerca de 250 servidores afetados.