Quais as receitas do sucesso de quem conseguiu reduzir indicadores de criminalidade? Dois painéis que abordam essa temática reuniram atenta plateia no Conexão de Experiências em Segurança Pública e Prevenção às Violências (Connex), encontro internacional que começou quarta-feira (13) e termina nesta sexta-feira (15) em Pelotas, no sul do Estado.
A própria Pelotas é um dos bons exemplos, pois dentre as cidades médias brasileiras mais seguras ela figura em quarto lugar. O debate focou também em duas cidades colombianas, Palmira e Medellín, que vivenciaram quedas impressionantes nos números de violência, sobretudo homicídios.
As três cidades implementaram algumas políticas em comum. Confira os números e as principais iniciativas:
Pelotas
A empresa MySide, responsável pela elaboração do anuário 2023 Cidades Mais Seguras do Brasil, coloca Pelotas em quarto lugar no ranking nacional de municípios com 200 mil a 500 mil habitantes e em primeiro lugar em segurança, no Rio Grande do Sul.
Conforme dados apresentados pela prefeita Paula Mascarenhas, de 2017 para 2023 os Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) diminuíram 70% no município. Enquanto o ano de 2017 registrou 99 mortes desse tipo, 2023 contabilizou 30. Os delitos patrimoniais tiveram redução ainda maior. Na esteira de ações de combate à violência, policiais focaram também nos ladrões. É o caso dos roubos a transporte público (redução de 90% desde 2017), os roubos de veículos (menos 82%), roubos a residência (menos 77%), furtos de veículos (menos 59%), roubos a pedestre (menos 73%), roubos ao comércio (menos 56%), roubos a estabelecimentos comerciais (menos 51%) e furtos a residência (menos 44%).
Entre as iniciativas tomadas está a criação do Observatório de Segurança Pública e Prevenção Social (que analisa e gerencia políticas contra o crime). A realização de Operações Integradas de guardas municipais, PMs e Polícia Civil, com foco nos "pontos quentes" (mais visados) de criminalidade.
Foram implementados também programas como o "Quem Luta não Briga", que dissemina as artes marciais entre jovens, o "Círculos de Construção de Paz" (para resolver rixas, sobretudo em escolas), a Busca Ativa Escolar (para tirar crianças das ruas e recolocá-las em aula), e o Mão de Obra Prisional (que usa detentos para obras públicas).
Palmira
Rica cidade do sudoeste da Colômbia, Palmira era também uma das mais violentas da América. Em 2011 a taxa anual era de 107 assassinatos por cada 100 mil habitantes, três vezes a média colombiana. Empresários requisitavam carro blindado para se dirigir do aeroporto ao centro, 15 minutos de trajeto, por medo de sequestros. Os homicídios aconteciam sobretudo entre 17 grandes quadrilhas, que usavam pistoleiros para as chacinas e extorquiam os comerciantes, recorda o ex-prefeito da cidade, o economista Oscar Escobar.
Hoje Palmira tem taxa de 31 homicídios por 100 mil habitantes. Ainda alta, mas três vezes menor do que a do início da década passada. A prefeitura, com Escobar à frente, criou o projeto Pazos (Paz e Oportunidades). A primeira ação foi contra as gangues. Até o Exército foi convocado a patrulhar as ruas, o que ajudou a diminuir os enfrentamentos e a confiscar armas. Foram feitos experimentos de policiamento comunitário nos 25 bairros que concentram 70% dos homicídios. Além disso, foi construída uma rede com mais de 400 câmeras de vigilância nos locais mais violentos.
Os jovens também foram beneficiados com atendimento psicológico, advogados (para os que respondem por crimes), acesso barato aos principais colégios, turmas para praticar esportes, quadras esportivas e transporte escolar gratuito.
Medellín
Um dos implementadores da política anti-violência em Medelllín, o antropólogo colombiano Santiago Uribe recorda quando esta cidade ao sopé dos Andes figurava entre as mais sangrentas do mundo. A taxa de homicídios chegou a 380 assassinatos por 100 mil habitantes em 1991, época do famoso cartel liderado por Pablo Escobar. Hoje a taxa é de 25 mortes violentas por 100 mil habitantes, menos de 10% do que já foi.
Uribe relata algumas iniciativas que sua cidade tomou, similares às de Pelotas (RS): observatório da violência, foco de policiamento em "pontos quentes" de homicídios, criação de centenas de praças e parques iluminados, programas para atividades esportivas para jovens.
E algumas soluções próprias. Medellín criou o Metrocable, sistema de teleféricos que liga a periferia às areas centrais. São 95 mil pessoas transportadas por dia, desde as montanhas até o centro. O transporte é complementado com o TransMillenium, sistema de ônibus em vias expressas, que permite usar com um só bilhete vários veículos em sequência (passe duplo ou triplo).