A Colômbia tem uma taxa de 26 homicídios por 100 mil habitantes. Muito, se comparado a países do primeiro mundo, como os EUA, com 6,9 mortes por 100 mil moradores. Pouquíssimo, se os colombianos olharem no espelho retrovisor seu tenebroso passado: 80 assassinatos por 100 mil habitantes durante a guerra dos cartéis nos anos 1990. Como a violência nesse país vizinho do Brasil (e tão semelhante) foi reduzida em quase um terço? Esse é um dos temas que galvaniza os debates na primeira edição do Conexão de Experiências em Segurança Pública e Prevenção às Violências (Connex), que começou nesta quarta-feira (13) e vai até sexta-feira (15), em Pelotas.
São mais de 30 conferencistas, de vários países. Uma das primeiras palestras foi justamente de Guillermo Rivera — ex-ministro do Interior da Colômbia, atual embaixador colombiano no Brasil, que abordou receitas do seu país para a redução da violência. Pelo menos quatro especialistas colombianos estão entre os palestrantes. Um deles deve falar de um verdadeiro milagre: Medellín, metrópole encravada no sopé dos Andes, chegou a vivenciar 380 assassinatos por 100 mil habitantes na época do temido chefe de cartel Pablo Escobar. Hoje a taxas caíram, na média, para 25 homicídios por 100 mil habitantes, menos de 10% do que foram.
Maciços investimentos em infraestrutura urbana, praças, locais de esporte, transporte público rápido e teleféricos para as montanhas ajudaram na redução, mas não apenas isso. A violência diminuiu por obra de uma mescla de firmeza em relação aos assassinatos patrocinados pelos cartéis e diplomacia no trato da questão histórica das guerrilhas. Os chefes das principais organizações do tráfico, de Medellín e Cali, foram mortos, extraditados ou cumprem penas de centenas de anos de prisão. Já em relação à guerra civil, em 2016 o governo da Colômbia assinou paz com a guerrilha das Farc. E as taxas de crimes despencaram para o menor nível dos últimos 40 anos, ressaltou o diplomata Rivera.
— Diplomacia e paz são a maneira de resolver conflitos. Territórios da violência foram pacificados. Entendemos a segurança humana como mistura de esforços das forças de segurança e também de diálogo, complementado com políticas que possam garantir melhor acessos a direitos sociais e econômicos — relata Rivera, que destacou ainda a necessidade de dar perspectivas aos jovens.
Na noite desta quarta-feira, deve palestrar o general Oscar Naranjo, ex-vice-presidente da Colômbia, que atuou na guerra contra as Farc. E nos próximos dias, alguns dos implementadores de políticas de redução da violência em Medellín e Palmira, cidades colombianas.
Violência em queda no Brasil
Outros palestrantes, brasileiros, analisaram por que a violência tem diminuído também no Brasil — sim, acredite, leitor, a tendência é essa. O índice de homicídios vem caindo desde 2021. Entre 2022 e 2023, a taxa baixou de 20,3 por 100 mil habitantes para 19,4. Lenta, nada comparável ao fenômeno colombiano, mas ainda assim boa notícia. Foi o menor número de assassinatos em 14 anos. No Rio Grande do Sul a tendência de queda é maior e mais longeva: 33,3% entre 2018 e 2021, por exemplo. E, em 2023, o menor número de assassinatos desde 2010. Pela primeira vez foram menos de 2 mil mortes no ano.
Um dos que palestrou sobre esse fenômeno é o delegado Antônio Padilha, responsável pelo programa RS Seguro, que prioriza concentrar policiamento nas duas dezenas de cidades gaúchas mais assoladas pela violência. Em relação ao Brasil, um dos analistas que falou na Connex é o gaúcho Marcos Rolim, jornalista, sociólogo e ativista de direitos humanos.
— A redução das taxas de homicídio no Brasil vem desde 2017 e está estável. É persistente. Existem diferenças entre os Estados, claro. O elemento decisivo para isso é a relação entre as facções que disputam a venda de drogas. Sempre que elas entram num certo acordo, ocorre estabilidade nos assassinatos. Quando há guerra, ocorre o contrário. São Paulo, por exemplo, tem uma das menores taxas de homicídios do Brasil e não por acaso uma facção exerce virtual monopólio do crime por lá — relata Rolim, que debateu o assunto com o também sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo.
Nos próximos dias serão debatidas no Connex receitas de alguns municípios, brasileiros e estrangeiros, para reduzir a violência.