Pelotas, no Sul do Estado, sedia entre quarta (13) e sexta-feira (15) um evento internacional centrado em táticas de prevenção ao crime. É a primeira edição do Conexão de Experiências em Segurança Pública e Prevenção às Violências (Connex) e tudo está projetado para que não seja a última. Serão 30 palestrantes e mais de mil participantes nesse ciclo de debates sobre experiências internacionais, nacionais e locais na redução de delitos.
A organização é da Frente Nacional de Prefeitos e Prefeitas, do governo do Estado e da prefeitura pelotense, que criou em 2017 o Pacto pela Paz e conseguiu, em média, redução de 70% nos crimes mais importantes — homicídios, roubos de carro, latrocínios. Daí, a escolha da cidade para centralizar os debates.
Mas lógico que o foco são experiências globais de combate ao crime. No primeiro dia as palestras se encerram com o ex-vice-presidente da Colômbia Oscar Naranjo, general que liderou o combate ao narcotráfico e hoje, fora das forças armadas, é consultor em segurança pública. São colombianos também outros três palestrantes, entre eles o ex-prefeito de Palmira e um consultor de Medellín, cidades que conseguiram consolidar impressionantes reduções na criminalidade.
Medellín, por exemplo, teve queda de 80% nos homicídios em duas décadas. A taxa de assassinatos, que em meados dos anos 1990 girava em torno de 199 por 100 mil habitantes (na época do cartel do famigerado Pablo Escobar), caiu para 25 por 100 mil em 2018 e vem se mantendo nesse patamar.
Entre as iniciativas adotadas naquela cidade estão museus e escadas rolantes a céu aberto (para transporte da população), o TransMilenio (sistema de integração de ônibus) e os Metrocables (teleféricos interligados ao metrô, que passaram a conectar regiões mais distantes, íngremes e de difícil acesso via meios de transporte tradicionais). Tudo isso ajudou a diminuir o atrativo propiciado pelo crime organizado, ligou a periferia aos centros comerciais e industriais da cidade e melhorou a qualidade de vida dos trabalhadores que se deslocam diariamente entre essas áreas e zonas mais centrais.
Em âmbito nacional, um dos conferencistas é o diretor-geral da Polícia Federal, delegado Andrei Rodrigues.
— Vamos falar sobre defesa da democracia. Com foco, evidentemente, nas investigações da PF sobre os episódios de 8 de janeiro de 2023 — antecipa ele à coluna.
As investigações da PF sobre os atos antidemocráticos que pregavam a retirada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva do poder já resultaram em mais de 1,3 mil denúncias. E em 130 condenados, por crimes como tentativa de golpe de Estado.
Outro que irá palestrar é o cientista social e consultor de segurança pública Alberto Kopittke, que ajudou a implementar em Pelotas políticas que resultaram em redução dos indicadores de criminalidade. Ele falará sobre seu último livro, Manual de Segurança Pública Baseada em Evidências, no qual analisa iniciativas em todo o planeta para combater o crime e aponta as que funcionaram e as que não funcionaram, com base em estatísticas.
Nos três dias do Connex serão analisados trabalhos de especialistas em segurança pública de todo o Brasil, dos guardas municipais e seu papel contra o crime, de PMs (debatendo polêmicas como a adoção de câmeras acopladas aos uniformes, para prevenir abusos por policiais ou contra eles), de especialistas em saúde mental dos agentes da lei, em violência contra adolescentes e mulheres e até na captação de recursos para melhorar a segurança nos municípios.
É uma oportunidade invulgar de troca de conhecimento. De quebra, Pelotas pretende oferecer aos visitantes suas muitas virtudes, a começar por um centro histórico preservado. Algumas atividades transcorrerão em prédios que são patrimônio cultural, como o Theatro Guarany e o Mercado Público.