O Ministério da Justiça e Segurança Pública acaba de autorizar uso da Força Nacional de Segurança Pública para agir antes, durante e depois da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente, em Brasília. A tropa, formada basicamente de PMs escolhidos a dedo (em decorrência do alto nível de preparo), vai se somar às polícias Militar e Civil do Distrito Federal, à Polícia Rodoviária Federal e à PF nos esforços para evitar tumultos e até atentados durante a cerimônia de troca presidencial.
Natural que seja assim. Está prevista a ida de até 300 mil simpatizantes lulistas à capital do país, para os festejos do dia 1º. A maioria de ônibus. Isso demanda muita revista e barreiras, o que justifica o uso da Força Nacional. O temor de distúrbios de rua ganhou agora o reforço da ameaça terrorista, a partir da descoberta, no último fim de semana, de um complô de bolsonaristas radicais para explodirem com bombas estações de energia em Brasília, durante a posse de Lula. O plano foi confirmado por um dos compradores do explosivo, logo após ser preso, com um arsenal que incluía fuzis. E, sim, ele próprio confirmou que é apoiador histórico de Jair Bolsonaro (PL). Isso não significa apoio maciço de bolsonaristas — inconformados com a eleição— a qualquer ato terrorista, mas as autoridades precisam se precaver.
Como precaução, o esquema de segurança terá snipers (atiradores de elite) e agentes disfarçados na multidão, além de raio X nos prédios (como Planalto e Congresso) e varredura pelo esquadrão antibombas. Só da PF serão 700 agentes na operação.
O curioso nisso tudo é o esvaziamento do aparato que costuma fazer a segurança presidencial: o Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Formado sobretudo por militares, ele ganhou a desconfiança do PT, que identifica nos integrantes dessa repartição uma identificação profunda e pessoal com o presidente Bolsonaro. O GSI é hoje chefiado por um dos mais fiéis propagadores do bolsonarismo, o general da reserva Augusto Heleno, que ainda esta semana repetiu, aos militantes que se aglomeram em frente ao Palácio do Planalto, que "o ladrão não subirá a rampa" (em referência a Lula).
Ou seja, o lulismo não quer conversa com o GSI. A segurança pessoal de Lula continuará com a PF, como é agora (embora Bolsonaro e outros presidentes fossem guarnecidos pelo GSI), já anunciou o futuro ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). A ideia, entre integrantes do futuro governo, é que o GSI passe por uma reformulação, com substituição dos funcionários mais identificados com o bolsonarismo. O que, evidentemente, não poderia ser feito antes da posse. Daí que o gabinete terá funções meramente simbólicas nessa transição. Uma pena, já que a existência de um aparato para cuidar exclusivamente dos perigos que um presidente enfrenta é universal.