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Ao contrário do desejado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os comandantes do Exército e da Marinha decidiram entregar os cargos antes da posse do novo presidente. O comunicado foi feito pelo atual ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, ao futuro titular do cargo, José Múcio Monteiro, na segunda-feira (26). Não se sabe ainda se o comando da Aeronáutica vai mudar após a posse ou antes.
Os militares, oficialmente, negam que a antecipação da posse tenha relação com divergências com acampados. Fontes disseram ao colunista que o motivo real é esse. O fato é que, por mais que existam diferentes opiniões, os oficiais-generais entregarão os cargos aos sucessores, escolhidos pelo staff lulista. O que contribui para debelar qualquer crise.
É mais um vaivém no cenário. Logo após Lula ganhar a eleição, em 30 de outubro, começaram rumores de que os comandantes das três forças armadas entregariam o cargo antes da posse do eleito, para mostrar fidelidade ao presidente que perdeu o pleito, Jair Bolsonaro (PL). Ao ser escolhido para a Defesa, Múcio, político hábil, conseguiu arrancar dos chefes militares o indicativo de que fariam a troca de guarda só após o novo presidente assumir, em 1º de janeiro, como recomenda o protocolo.
Acontece que no fim de semana ocorreu a descoberta de uma bomba conectada a um caminhão de combustível em Brasília. Parte de um plano terrorista para destruir central energética no Distrito Federal, elaborado por militantes radicais do bolsonarismo, no intuito de tumultuar o ambiente pré-posse e forçar a decretação de Estado de Sítio por parte das Forças Armadas. Isso foi dito em depoimento pelo próprio homem que armou a bomba, um gerente de posto de gasolina, com o qual foi encontrado um arsenal que incluía fuzil.
![PCDF / Divulgação PCDF / Divulgação](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/8/4/0/3/0/3/4_14501bbccc943b2/4303048_d045e6f8ad1445d.jpg?w=700)
O aspirante a terrorista, George Washington de Oliveira Sousa (apoiador de Bolsonaro, como ele próprio admitiu em depoimento à polícia e como mostram suas redes sociais), frequentava no Distrito Federal o acampamento dos revoltados com o resultado das eleições, que juram fazer tudo para Lula não assumir. Esses manifestantes estão há quase 60 dias em frente aos quartéis militares das principais cidades brasileiras. Os policiais já identificaram seis outros envolvidos no complô e prometem agir.
O plano terrorista acendeu o alerta na equipe de Lula, que pressiona para que os acampamentos sejam desmontados antes da posse do presidente eleito. Grande parte dos generais do Alto Comando acredita que isso não é tarefa deles, mas das polícias estaduais, que zelam pela segurança pública. É o caso do Rio Grande do Sul, onde a BM tem advertido os manifestantes para que saiam de frente do QG do Exército, em Porto Alegre.
Acontece que até a Advocacia-Geral da União opina que é tarefa das Forças Armadas retirar os manifestantes de frente dos quartéis. Parecer elaborado pela AGU e enviado ao Ministério da Defesa aponta que a administração militar "está compelida a utilizar o poder de polícia, quer preventivo, quer repressivo, nas áreas previstas na legislação em vigor (raio de 1.320 metros) sempre que estiver em ameaça as atividades marciais direcionadas ao preparo da tropa e expuserem riscos à própria segurança dos aquartelamentos".
Há divergências. Muitos generais não consideram que os quartéis estão ameaçados pelos militantes bolsonaristas, até porque vários ativistas são militares da reserva ou seus familiares. Tanto que os comandantes das Forças Armadas, em 11 de novembro, assinaram nota conjunta na qual endossaram o direito dos descontentes de protestarem em frente a quartéis, embora condenassem excessos (em referência à interrupção de vias). É provável que tenham decidido antecipar a saída do cargo para não terem de reprimir os manifestantes acampados - embora não comentem isso.
Resta saber o que farão os novos comandantes. Tudo indica que a decisão será tomada após reuniões, em coesão, para evitar decisões individuais de chefes regionais. Podem optar por recomendar que as polícias façam o serviço ou aceitar a ideia da equipe de Lula, de que cabe às Forças Armadas retirar os manifestantes, inclusive com revista aos acampamentos. Não há solução fácil nessa situação.