Apesar da descoberta de uma bomba caseira conectada a um caminhão de combustível, montada por um bolsonarista em Brasília (que confessou ter tentado explodir uma subestação de energia), as Forças Armadas ainda não cogitam desmobilizar à força os acampamentos de simpatizantes de Jair Bolsonaro (PL) que protestam, em frente a quartéis, para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nem elas, nem a maior parte da cúpula das Polícia Militares brasileiras. Essas instituições apostam na desmobilização natural desses militantes radicalizados, à medida em que a posse do novo governo, em 1º de janeiro, se aproxima.
Os generais com quem conversei mostram surpresa com a bomba encontrada numa estrada do Distrito Federal. É um típico artefato terrorista. Em inglês, Improvised Explosive Device (ou IED, no jargão militar internacional). Feito à moda Estado Islâmico.
E a intenção revelada pelo aspirante a terrorista caseiro, o paraense George Washington de Oliveira Souza, era explodir uma subestação de energia em Taguatinga, no Distrito Federal.
Esse mesmo homem, gerente de um posto de gasolina, adquiriu um arsenal ao custo de R$ 160 mil, que incluía pistolas, revólveres, fuzis, carabinas e munições. Tudo pronto para o primeiro atentado terrorista no Brasil em muitas décadas, que só não ocorreu porque a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu o homônimo do líder patriota norte-americano antes que ele explodisse tudo.
A versão nas redes bolsonaristas é de que Washington seria um petista infiltrado nos acampamentos anti-Lula em frente aos quartéis (que ele mesmo admitiu frequentar). Só que a biografia dele é de um bolsonarista. Há meses faz nas redes sociais postagens agressivas contra a esquerda, pregando que os militares façam um golpe de Estado e clamando o povo a impedir a posse de Lula. Ele mesmo diz que foi a Brasília com essa intenção e ficou decepcionado quando as Forças Armadas não agiram.
"Então eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação de Estado de Sítio, para impedir a instauração do comunismo Brasil", disse Washington em depoimento, ao qual tivemos acesso integral. Ou seja: desapontado porque as autoridades não agiram como ele queria, decidiu montar uma célula de ação direta extremista.
A Polícia Civil do Distrito Federal já admite que ocorrerão novas prisões. Como o suspeito mencionou gente acampada em frente aos quartéis, é possível que sejam enquadrados.
Já no restante do país não há planos nesse sentido — pelo menos, não por enquanto. Generais consideram que a missão de convencer os acampados a saírem da proximidade dos quartéis é das Polícias Militares.
No caso do Rio Grande do Sul, a BM aposta na cautela e desmobilização natural, ante a inexorável posse de Lula. São 21 pontos de manifestações no Estado, mas com pouca gente. Ao todo, no RS, foram contabilizados 190 manifestantes no último sábado, 35 em Porto Alegre, em frente a quartéis. No domingo o número aumentou, mas na segunda voltou a cair.
A tendência é esperar, a menos que a Justiça ordene retirada imediata dos acampados. O temor dos militares (federais e estaduais) é encontrar resistência e justificar pose de mártires de alguns manifestantes.
Quanto aos envolvidos no complô, as polícias vão agir. Serão enquadrados na Lei Antiterrorismo (13.260/2016). Em seu artigo 2º, ela define: "terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública".
No parágrafo primeiro, essa legislação define atos de terrorismo:
"I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa"
Exatamente o que estava previsto para acontecer no Distrito Federal.