Deve sair até o final da tarde desta quarta-feira (9) o relatório do Ministério da Defesa sobre o desempenho das urnas eletrônicas. O documento, com várias páginas, deve vir em tom equilibrista. Não vai falar em fraudes no sistema eleitoral brasileiro, mas deve apontar "lacunas" a serem aperfeiçoadas no uso dos equipamentos. Com isso, pode incendiar os ânimos dos que pedem intervenção militar para impedir posse do vencedor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como presidente.
O relatório deve ser enviado de forma eletrônica ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sem visita formal ao presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes. É tratado pelos militares como "forma de contribuição" para melhoria da segurança das urnas. Os militares analisaram boletins de 462 seções eleitorais, documentos impressos pelos equipamentos ao fim das votações e que informam os totais de votos de cada candidato, registrados ao longo do dia naquela respectiva urna. Tudo para verificar se a urna imprime no boletim o mesmo voto que a Justiça Eleitoral envia para a totalização oficial do TSE.
O relatório dos militares deve criticar o número baixo de pessoas submetidas a testes de biometria e sugerir que seja maior, nas próximas eleições, para garantir incolumidade. A presença de uma equipe composta por integrantes das três forças armadas (Aeronáutica, Marinha e Exército) como verificadores do processo eleitoral foi sugerida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que, desde que assumiu, em 2018, usa as redes sociais para mostrar desconfiança em relação às urnas. Ele chegou a defender o uso de cédulas de papel, mas foi voto vencido, inclusive dentro do governo. Permaneceu colocando em dúvida o sistema.
Fontes ouvidas pelo colunista dizem que, apesar de não sugerir fraude, o relatório tampouco dirá que o sistema eleitoral é imune a ela. Uma das possíveis críticas seria relativa à concentração de pessoas ligadas ao TSE em relação ao código-fonte das urnas (como se sabe, Bolsonaro coloca sob suspeita a lisura do TSE para comandar o pleito). Com isso, atenderia à expectativa da parcela bolsonarista dos eleitores, descontente com o resultado das eleições, e abriria caminho para possível questionamento do pleito junto ao TSE.
Pode ser que apoiadores de Bolsonaro se frustrem com uma situação: o relatório não deve questionar o fato de o atual presidente não ter nenhum voto, em determinadas urnas. Isso teria ocorrido em 143 seções de todo o país e deu origem a uma acirrada campanha bolsonarista nas redes, com alegações de fraude, feitas inclusive por um militante argentino de direita, em live nas redes sociais. Acontece que, em pelo menos quatro seções, apenas Jair Bolsonaro recebeu votos (nenhum para Lula). Ou seja, o fenômeno de um candidato ser o único votado em determinado local existe e vale para os dois lados dessa briga ideológica. Além disso, já aconteceu em 2018 e em 2014. Os militares não levarão isso em conta.
O relatório dos militares é o terceiro enviado por observadores externos ao TSE, nos últimos dias. Antes deles, o Tribunal de Contas da União (TCU) se manifestou, após exame de mais de 6 mil urnas. E também a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Ambos asseguraram não terém encontrado problemas no sistema eleitoral.