As investigações da Polícia Federal que resultaram na prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e do pastor Gilmar Santos apontam que um balcão de negócios foi montado no MEC. O ex-titular da pasta, preso nesta quarta-feira (22), teria permitido que Gilmar e outro pastor evangélico, Arilton Moura, cobrassem propina pela liberação de verbas. Isso foi confirmado por prefeitos Brasil afora. Alguns disseram ter sido convidados a pagar em ouro pelo repasse de recursos federais que estavam represados e aos quais seus municípios teriam direito. Os dois pastores frequentavam dioturnamente o ministério, embora sem cargo formal no governo.
O tráfico de influência incluiu até distribuição de Bíblias com fotos de Milton Ribeiro (que também é pastor) inseridas nas páginas, revelou a imprensa. E quais as conexões desse esquema no Rio Grande do Sul? Escassas, ao que indicam as investigações da PF. Nenhuma das buscas e prisões realizadas agora passa por território gaúcho.
Em março, este colunista e o colega Carlos Rollsing revelamos, em reportagem, que os dois pastores, Gilmar e Arilton, tinham proximidade com um político gaúcho, Marcelo Brum (Republicanos) - que até aquele mês atuava como deputado federal, mas deixou o cargo porque o titular eleito retornou à Câmara Federal. Vídeos, fotografias e registros em redes sociais mostram que Brum prometeu recursos, intermediou encontros com autoridades e frequentou cultos religiosos e eventos privados junto com os pastores Gilmar e Arilton. Em um culto gravado em 2019, ele chegou a prometer publicamente o repasse de R$ 200 mil em emendas para a construção de um centro do idoso para o pastor Gilmar. Na época em que era visto com os pastores, o parlamentar também chegou a indicar para o Rio Grande do Sul destinação de R$ 1,5 milhão em recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), mas a verba não chegou a ser liberada.
Brum alega que conheceu os pastores por atuar na Frente Parlamentar Evangélica, impulsionada por eles. Nega irregularidades e se diz surpreso com elas. Está bem.
Afora essa ligação política, nada indica que os pastores tenham influenciado muito no Rio Grande do Sul. Como eles atuavam sobretudo com verbas do Fundo da Educação, este colunista fez um levantamento. De 2019 a 2022, no governo Bolsonaro, o FNDE empenhou verbas para 17,3 mil escolas infantis no país. Desse total, apenas 321 foram para o Rio Grande do Sul. Ou seja, 1,8%. E, ao contrário do que aconteceu sobretudo nas regiões Norte e Nordeste do país, no Rio Grande do Sul a maioria desses empenhos aconteceu no início do governo e não após a pandemia, quando os pastores mostraram força junto ao MEC. Em suma, o Estado que ocupa o 6º lugar em população no Brasil recebeu menos de 2% das tentativas de repasses de verbas no ministério onde os religiosos presos hoje atuavam. Tudo indica que o tráfico de influência apontado pela PF não teve força em território gaúcho.