Ficou mais difícil para a bandidagem esconder seus crimes. Começou a funcionar há um mês o envio automatizado das ocorrências envolvendo armas de fogo registradas nas delegacias da Polícia Civil do Rio Grande do Sul para o Sistema Nacional de Armas (Sinarm), gerenciado pela Polícia Federal (PF).
Em 30 dias, foram registrados mais de mil casos de furtos, roubos e extravios de armamento em território gaúcho, contabilizados por policiais civis gaúchos.
É um salto qualitativo, graças a um acordo estabelecido em julho entre a Superintendência Regional da PF no Estado e a Secretaria da Segurança Pública. O convênio cumpre o disposto no Estatuto do Desarmamento, que prevê a integração dos acervos de registros de armas existentes.
E vem mais por aí. Os próximos passos são viabilizar a inserção de laudos periciais de armas de fogo elaborados pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP/RS) no Sinarm e estabelecer fluxos de dados referentes ao arsenal da Polícia Civil.
A PF também estuda possível envio eletrônico de dados referentes a armas de fogo apreendidas, cujo rastreamento seja necessário. Inclusive checagem internacional. Ou seja, o sistema aponta de onde vieram armas possivelmente envolvidas em crimes.
Sei bem o quanto esse acordo entre as polícias Federal e Civil é um avanço. Em 2018, participei, com a Adriana Irion, de uma reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) que revelou como quatro policiais uruguaios, quando ainda estavam na ativa, contrabandearam 423 armas para as três principais facções criminosas gaúchas. A partir de ocorrências da PF, o GDI também rastreou o destino de parte desse armamento e mostrou como ele serviu para viabilizar pelo menos 14 crimes, entre eles homicídios e assaltos. Um deles, um tiroteio em que morreram quatro bandidos, em frente ao Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, em 2016.
O novo acordo é um passo em direção ao sonho de que esse tipo de levantamento origem-destino vire rotina, não exceção.