Chocantes as imagens da sede da Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP), transformada em tocha. O grande desafio, para peritos e policiais, é descobrir se o edifício morreu por alguma negligência, imperícia ou imprudência (crime culposo) ou foi assassinado.
Sim, incêndios propositais matam prédios. Por se tratar de um local estratégico no combate ao crime, natural que uma das principais hipóteses seja de que o fogo tenha sido premeditado.
Nos nove andares funcionavam o Departamento de Comando e Controle Integrado (DCCI), que controla câmeras de vigilância e o telefone 190, a Susepe e Seapen (que centralizam o sistema penitenciário estadual), a parte administrativa do Instituto Geral de Perícias (IGP) e o Detran, entre outras repartições nevrálgicas.
Trabalhei nesse edifício, temporariamente, nos longínquos anos 80, logo após me formar em Jornalismo. Fazia textos para a assessoria de imprensa da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA), cuja sede ficava ali. O prédio era escuro, soturno, mas não estava entre os mais antigos da cidade. Foi erguido entre 1972 e 1974, no pátio de vagões da antiga rede ferroviária.
Com a privatização da RFFSA, a estrutura foi sendo desocupada, mas ainda não havia ideia de que fosse cedida ao Estado para qualquer função. Até então, a Secretaria da Segurança Pública funcionava no Centro Administrativo, aquele em formato piramidal, junto à Perimetral.
Por volta de 1995, José Fernando Eichenberg, titular da SSP no governo Antônio Britto (PMDB), retirou a secretaria do Centro Administrativo e a colocou em um edifício da Rua Sete de Setembro, no Centro. Ali ficou até o fim daquele governo, mas já tinha intenção de centralizar o trabalho da segurança no prédio da RFFSA.
Olívio Dutra (PT) ganhou a eleição em 1998, e o seu secretário da Segurança Pública, José Paulo Bisol (que faleceu há poucos dias), se mudou para a antiga sede da RFFSA, onde unificou a parte administrativa dos serviços policiais. Conseguiu. Mas o logotipo da RFFSA permaneceu em alguns pontos do edifício, a transmitir história a seus novos donos.
Bisol levou junto com ele o chefe da Polícia Civil e o comandante da Brigada Militar (BM), para o novo prédio. Era simbólico, pretendia incutir a ideia de uma só polícia. A iniciativa durou só até o fim do governo Olívio. Policiais civis e militares relutavam em unificar suas sedes. A rivalidade entre as corporações era histórica, lembra o ex-dirigente da Susepe na época (e também ex-secretário da SSP), promotor Airton Michels.
Os governos que se sucederam voltaram a descentralizar os comandos das polícias, mas algumas funções permaneceram unificadas. Trabalhos de inteligência e monitoramento de escutas telefônicas, por exemplo, permaneceram centralizados no prédio da SSP. E as chefias do IGP, do Detran e do sistema penitenciário foram para o edifício. Que agora morreu – ou foi morto.