A Polícia Civil neutralizou na manhã desta sexta-feira (23), em Viamão, um esquema que já se tornou habitual em residenciais populares bancados por programas federais, como o Minha Casa Minha Vida. Quadrilhas se unem para expulsar moradores e transformar as residências em bunkers da droga.
No caso relatado, na Vila Augusta, pelo menos 40 famílias foram escorraçadas pelos criminosos.
O curioso é que entra ano, sai ano e essa prática continua em voga. Em 2014, fiz para GZH uma série de reportagens intitulada “Minha Casa Minha Fraude”. Mostrei como residências do Minha Casa Minha Vida situadas em Canoas, Esteio, Cruz Alta, Pelotas e Porto Alegre, entre outros locais, eram vendidas, alugadas e invadidas, virando moradia de estranhos.
As duas primeiras práticas são proibidas pelo contrato da Caixa Econômica Federal (CEF), já que o programa se destina a carentes e praticamente doa os imóveis aos mutuários (as prestações giram em torno de R$ 35 mensais). Logo, não cabe ao sujeito que ganhou esse benefício vender ou alugar, certo? Mas, em alguns locais onde estive, um em cada três residências não estava com o dono.
Expulsar é um ato mais grave e, via de regra, atrai repressão policial, como aconteceu agora em Viamão. Aliás, estão de parabéns o delegado regional Juliano Ferreira e Júlio Fernandes Neto pelos 20 presos nesta sexta-feira. Essa transformação de imóveis do governo em bunkers da droga já tinha acontecido nos condomínios Camila e Ana Paula e foi também alvo de ação policial.
Pois, em 2018, retornei ao tema e, de novo, gravei moradores do Minha Casa ofertando imóveis para venda ou aluguel. Eram da faixa 1 do programa, a dos carentes. Portanto, proibida essa prática. Retornei meses atrás a alguns desses residenciais, em plena pandemia, e… adivinhe? Mais uma vez comprovei que mutuários vendem ou alugam.
Isso acontece por que falta fiscalização. Antes da ação policial, como a que vimos nesta sexta, o governo federal deveria fiscalizar de forma sistemática se os mutuários continuam morando no apartamento financiado. Isso é feito apenas de forma esporádica, por amostragem. O resultado é dinheiro indo pelo ralo. A consolidação do Minha Casa Minha Fraude. Verba que saiu do bolso do cidadão: eu e você.