A Polícia Federal deveria ter pelo menos 100 vezes mais contingente se resolvesse abrir um inquérito para cada pessoa que burlou programas federais nos últimos tempos. O desabafo é de um delegado federal com quem conversei.
A última descoberta é a maré de casos envolvendo o recebimento de auxílio emergencial contra os efeitos da covid-19, pagos a quem não precisa do benefício. O assunto foi tema de reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) esta semana. O Tribunal de Contas da União (TCU) já identificou mais de 620 mil pessoas que não poderiam ter acesso ao auxílio, mas o receberam: empresários, políticos, servidores públicos, gente com boa renda, em resumo.
Na manhã desta terça-feira (30), outra fraude começa a ser punida. É mais antiga que a farra do auxílio emergencial. A PF realizou operação para identificar e apreender bens comprados com dinheiro desviado do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). A fraude foi identificada nos municípios de Passo Fundo, Ijuí, Tapera e Salto do Jacuí. As falcatruas na obtenção do seguro agrícola se referem às safras dos anos de 2016 e 2017.
Conforme a PF, os agricultores, após obterem financiamento agrícola por meio dos programas federais Pronaf e Pronamp, alegavam perdas na produção e utilizavam notas fiscais adulteradas, de aquisição de insumos, para então receber o seguro. Os policiais identificaram que um grupo de empresas e pessoas físicas fornecia esses documentos falsificados aos agricultores.
Há décadas se fala que o Brasil é um país abençoado, em que se plantando, tudo dá. Só que é também amaldiçoado em outro sentido: em se doando dinheiro governamental, todo tipo de fraude se cria.
Não há orçamento que resista à voracidade desses predadores.