Em meio à euforia dos militantes petistas pela libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), algumas cabeças pensantes lembram que nem tudo é vitória. Pelo menos, duas espadas ainda pendem sobre a cabeça do petista, no horizonte próximo.
Uma delas é a inelegibilidade, que continua, algo penoso para um político-raiz como Lula. É bom ressaltar: ele está saindo de trás das grades, mas continua condenado. Em duas instâncias. Portanto, inelegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa. Isso não mudou com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no sentido de que só é obrigatória a prisão de condenados quando não há mais recursos jurídicos pendentes. Com essa decisão Lula escapa, por enquanto, da prisão, mas continua inelegível.
A esperança dos apoiadores do ex-presidente em vê-lo candidato repousa em duas perspectivas. A primeira é que a sentença do triplex (apartamento que teria sido reformado para ele pela construtora OAS), que Lula está cumprindo agora, seja anulada em decorrência da suspeição que paira sobre o juiz que o condenou, Sergio Moro. Os tribunais superiores vão julgar em breve se ele perseguiu o líder petista, como alegam os lulistas. Serão usadas trocas de mensagens telefônicas nas quais Moro combina com procuradores da República a melhor estratégia de condenar réus — entre eles, Lula. Num outro front, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) se prepara para julgar, em segunda instância, a segunda condenação de Lula, por corrupção no usufruto do sítio em Atibaia (SP). É até provável que ele não seja condenado, já que o próprio Ministério Público Federal (MPF) pediu a anulação do processo por uma falha: os delatores que acusam Lula de corrupção foram ouvidos por último na ação criminal, embora caiba ao réu a última palavra. Caso ocorra anulação dos dois casos, Lula ressuscitará para a vida política.
Mas, além da inelegibilidade, outra espada atormenta os sonhos dos apoiadores de Lula: a volta para a prisão. Além das ações criminais do triplex e do sítio de Atibaia, o ex-presidente é réu em cinco outros casos. Ganhou fôlego para não ser preso, com a decisão do STF, já que as diversas etapas de julgamento nesses casos levarão anos. Mas Lula não está livre de uma prisão preventiva decretada por algum juiz que o considere perigoso. Entres os motivos que um magistrado pode invocar para justificar a ordem de prisão, está a do clamor popular (isso ocorreu com os responsáveis pelo incêndio na boate Kiss), ameaça a testemunhas (Eduardo Cunha, adversário de Lula, está na cadeia por isso) e até deduzir que o acusado é responsável por um tumulto. Por isso é de esperar cautela até entre os mais fanáticos admiradores do ex-presidente.