Até o meio-dia desta quarta-feira (12) ainda não surgiram novos vazamentos de conversas nas quais o juiz Sergio Moro orienta a ação de procuradores da República que atuam na operação Lava-Jato. Os diálogos foram revelados no domingo (9) pelo The Intercept Brasil, que prometeu fazer mais revelações em breve. Foram abertas apenas 1% das mensagens disponibilizadas aos jornalistas, disse um dos diretores do site.
Os novos fatos ainda não surgiram e muita gente estranha essa demora. Eu, não. A tática é similar à usada em 2013 e 2014 por Edward Snowden, o espião que trabalhava para a CIA e para a Agência Nacional de Segurança norte-americana (NSA) e que vazou milhões de dados confidenciais do governo dos EUA. Entre os fatos revelados, o de que os espiões acessam fotos, e-mails e videoconferências de internautas que usam os serviços de empresas americanas de comunicações, como Google, Facebook e Skype.
Snowden alegou ter delatado o esquema por descobrir que cidadãos inocentes e governos aliados dos norte-americanos também eram espionados por ele e seus colegas, inclusive por razões comerciais ou de chantagem.
E quem revelou ao mundo os dados surrupiados por Snowden? Glenn Greenwald, o mesmo jornalista que agora revela ao mundo o entrosamento pouco recomendável entre juiz e procuradores da Lava-Jato. Greenwald é diretor do The Intercept.
O vazamento a conta-gotas dos segredos guardados por Snowden começou em 5 de junho de 2013, numa reportagem assinada por Greenwald no jornal britânico The Guardian. Em 9 de junho a identidade de Snowden foi revelada por aquele jornal. Em 7 de junho foi a vez de o jornal norte-americano The Washington Post publicar matéria a respeito, fazendo nova reportagem em outubro.
Em 31 de julho o Guardian publicou nova reportagem, mostrando que um sistema de vigilância secreto conhecido como XKeyscore permite à inteligência dos EUA supervisionar "quase tudo o que um usuário típico faz na Internet". No fim de outubro, o "Washington Post" revelou que a NSA invadiu em segredo links de comunicação que conectam data centers do Yahoo e do Google ao redor do mundo, com acesso a dados de milhões de usuários. Reportagens exclusivas também foram feitas por TV Globo e jornal O Globo.
Note-se um padrão: vazamentos semanais, depois mensais...a cada resposta governamental, um contra-ataque. Até que o assunto caiu no esquecimento.
Falei rapidamente com Greenwald em 2013. Ele me disse que os contatos com Snowden prosseguiam, semanais. Sempre criptografados. Será que continuam? Aliás, o que Snowden faz hoje na Rússia, país onde se refugiou, além de conferências sobre liberdade de comunicação? Nunca é demais lembrar que é russo o aplicativo Telegram, interceptado nas conversas de procuradores e juiz brasileiros. Perguntas e coincidências que também podem ter despertado curiosidade nos condutores da operação Lava-Jato.