A operação desencadeada pela Polícia Civil nesta quinta-feira (6) evidencia que a mais sangrenta facção criminosa gaúcha tem dedicado tempo e planejamento a assaltar bancos e roubar carros. É a autêntica volta às origens. Essa grande quadrilha, hoje espalhada do Litoral à Fronteira, nasceu num bairro da periferia de Porto Alegre e foi formada por ladrões que atacavam, sobretudo, supermercados e táxis. Isso nos anos 1990. Depois, começaram a cometer assassinatos por encomenda, para outras facções. Por fim, tomaram algumas bocas-de-fumo, associaram-se a outras e migraram para o tráfico de drogas.
Tudo indica que nunca deixaram os roubos de lado, mas não eram parte significativa dos seus ganhos. O assalto é praticado, via de regra, para conseguir dinheiro vivo — muitas vezes enviado a presídios — e pagar dívidas. O grande lucro vem mesmo do tráfico, que é comércio estabelecido, com livro-caixa e ponto certo de vendas, ainda que ilegal.
Pois a ação da Polícia Civil mostra que os assaltos voltaram a ser parte importante das ações desse grupo criminoso. Inclusive no Exterior: o maior roubo ocorrido em 2017 no Uruguai foi praticado por integrantes dessa facção porto-alegrense.
O que não deixa de ser curioso. Quem é jovem não sabe, mas as grandes facções gaúchas foram formadas por assaltantes e não por traficantes, como é usual em outros Estados.
A Falange Gaúcha, que nos anos 1980 dominou os presídios do RS, foi organizada pelo ladrão de bancos Dilonei Melara. Nos anos 2000, e organização criminosa deu origem à maior facção do Estado, do Vale do Sinos e que hoje atua em todas as regiões gaúchas.
Um outro notório assaltante gaúcho, Cláudio Adriano Ribeiro, o Papagaio, foi preso recentemente com um arsenal, logo após um duplo assalto a carros-fortes registrado próximo a Curitiba. O ataque teria sido encomendado pela maior facção do país, nascida em São Paulo, de forma simultânea a explosões num presídio que garantiram a fuga de dezenas de presos ligados ao grupo. A vantagem para os ladrões, em relação ao tráfico, é o imediatismo do dinheiro vivo. A desvantagem, o risco de morte, sempre presente.