O fato de os dois vencedores da eleição, o presidente da República e seu vice, serem militares da reserva do Exército deixou entre policiais federais uma leve apreensão: a de que a Polícia Federal volte a ser comandada por um integrante das Forças Armadas. Os mais novos talvez não saibam, mas era assim durante o governo militar. Coronéis eram designados superintendentes da PF nos Estados.
O último militar a ocupar esse cargo no Rio Grande do Sul foi o coronel do Exército Luiz Macksen de Castro Rodrigues, que o exerceu de 1977 a 1995. Foi quando assumiu a direção-geral da PF um delegado de carreira. Desde então, só delegados de carreira — civis — ocuparam os postos-chave da corporação. Virou lei.
E assim vai continuar, asseguram dois policiais federais que gozam de grande prestígio no governo Temer e na gestão recém-eleita, ouvidos por GaúchaZH. Não há qualquer cogitação de colocar militares a mandar na PF.
Isso significa que os policiais vão escolher suas chefias? Não. É costume que as associações de delegados, de agentes e até de peritos sugiram ou apoiem nomes, algo que será preservado. Mas a decisão sobre o novo diretor-geral da PF (o DG, como é conhecido) deve passar pelo crivo da família Bolsonaro. Mais precisamente, pelo escrivão da PF Eduardo, filho do presidente eleito e deputado federal campeão de votos em São Paulo.
É provável que Bolsonaro, pai e filho, conversem com alguns dos oito policiais federais eleitos neste ano (cinco deles agentes e três delegados). Do total, dois são deputados estaduais e os demais, deputados federais. Mesmo com direito a palpites, ficou claro que o DG será considerado cota de confiança do presidente, com direito a opinião do seu filho servidor da PF. O critério será técnico, mas passará pela confiança presidencial.
Nada que fuja ao usual. Um ano atrás, o DG era Fernando Segóvia, escolhido pessoalmente pelo presidente Michel Temer (MDB). Ele chegou a dizer que não havia indício de crime em atuação de Temer para beneficiar empresas portuárias. Durou pouco no cargo. Foi substituído por Rogério Galloro, que permanece até hoje no cargo e autorizou prosseguimento de inquéritos para investigar Temer — que, inclusive, foi indiciado por corrupção, dias atrás. Sinal de autonomia da PF. A pressão de agentes e delegados sobre a família Bolsonaro será para que essa autonomia permaneça.
Tudo passa também pelo ministro da Justiça, ainda não escolhido. Mesmo sem nomes, uma decisão já é dada como certa: a pasta da Segurança Pública deve ser vinculada ao Ministério da Justiça, sem o status independente que ganhou no governo Temer. Tudo dentro do espírito de cortar o número de ministérios. É possível até que se chame Ministério da Justiça e da Segurança, embutindo a PF.