O dito popular segundo o qual “o peixe morre pela boca” pode ser aplicado ao delegado Fernando Segovia, o breve. Na véspera de completar cem dias no comando da Polícia Federal, Segovia foi demitido pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Caiu porque falou demais em uma entrevista à Agência Reuters. Opinou que o inquérito que investiga o favorecimento da empresa Rodrimar no Porto de Santos, pelo presidente Michel Temer, seria arquivado. A exoneração do delegado foi um dos primeiros atos de Jungmann, antecipando-se a um pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para afastar o diretor-geral.
Desde que foi publicada a entrevista, no dia 9 de fevereiro, Segovia estava em processo de fritura. Resistiu por 17 dias e caiu horas depois da posse do novo chefe.
Depois da entrevista em que mencionou a tendência de a Polícia Federal recomendar o arquivamento do inquérito contra Temer no caso do decreto dos portos, Segovia foi chamado a dar explicações ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. Nesta terça-feira (27), Barroso decidiu prorrogar por 60 dias o inquérito que investiga o suposto pagamento de propina a Temer para beneficiar a Rodrimar no decreto dos portos, detalhado na delação premiada de Joesley Batista e Ricardo Saud.
A prorrogação das investigações tinha sido pedida pela PF no último dia 20 e teve aval da procuradora Raquel Dodge. No ofício ao STF, Dodge pediu a Barroso que emitisse ordem judicial para o diretor-geral da PF, Fernando Segovia, se abster de “qualquer ato de ingerência” sobre o inquérito, sob pena de afastamento do cargo.
Barroso respondeu que Segovia “já manifestou, por escrito nos autos, e oralmente perante este relator, o compromisso de não interferir em qualquer medida no inquérito em curso. Considero-o, portanto, devidamente ciente de que deve se abster de qualquer pronunciamento a respeito.”
As declarações do diretor-geral na entrevista à Reuters repercutiram negativamente entre os delegados da PF, que passaram a pressionar pelo afastamento. Além de incomodados com a afirmação de que a tendência era a PF recomendar o arquivamento do inquérito, os delegados se indignaram com a afirmação de Segovia de que poderia abrir investigação interna para apurar a conduta do delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pelo inquérito. Motivo? Os questionamentos enviados a Temer sobre o caso do decreto dos portos. A defesa reclamou que as perguntas colocavam em dúvida a “honorabilidade e a dignidade pessoal” do presidente da República.
Por tudo isso, Segovia ficou sem as condições mínimas para continuar no comando da Polícia Federal, instituição-chave para o sucesso da intervenção na segurança pública no Rio de Janeiro. O novo diretor-geral, delegado Rogério Augusto Viana Galloro, assume convicto de que deve seguir à risca um outro dito popular: “em boca fechada não entra mosca”.