No comando da Polícia Federal desde novembro de 2017, ano em que a Lava-Jato começou a dar sinais de enfraquecimento, Fernando Segovia foi o protagonista do noticiário político do fim de semana. Mais uma vez, defendeu o presidente Michel Temer, dizendo à agência Reuters que não há indício de crime na investigação contra o peemedebista no chamado inquérito dos portos. Indicou também que a tendência é de que a PF arquive o caso.
A declaração veio três meses depois de ter falado que “uma única mala” não seria suficiente para culpar Temer no episódio Joesley Batista e Rodrigo Rocha Loures, suposto recebedor das propinas direcionadas ao presidente. Aliado de integrantes da cúpula do PMDB em Brasília e, concomitantemente, líder de um órgão que investiga políticos, Segovia deveria evitar falas ou declarações que podem ser mal interpretadas.
O ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), intimou o diretor-geral a prestar esclarecimentos sobre a fala envolvendo o inquérito dos portos. “Tal conduta, se confirmada, é manifestamente imprópria e pode, em tese, caracterizar infração administrativa e até mesmo penal”, escreveu Barroso.
A servidores da Polícia Federal, em nota, Segovia desmentiu a interpretação dos jornalistas da Reuters: “Afirmo que em momento algum disse à imprensa que o inquérito será arquivado. Afirmei inclusive que o inquérito é conduzido pela equipe de policiais do Ginqe com toda autonomia e isenção, sem interferência da Direção Geral. Acompanho e acompanharei com o cuidado e a atenção exigida todos aqueles casos que possam ter grande repercussão social, é meu dever, é o que caracteriza o cargo de direção máxima desta instituição, é o que farei”.
O inquérito dos portos e as diligências ainda estão em andamento. O advogado oficial de Temer, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, pediu ao STF no mês passado o arquivamento da ação por falta de provas. A investigação foi solicitada por Rodrigo Janot e autorizada por Barroso em setembro. O ex-procurador-geral baseava-se em interceptações telefônicas de Rocha Loures. Suspeitava-se do pagamento de vantagens indevidas a Temer pela Rodrimar, empresa que opera concessões no Porto de Santos e seria beneficiada pela publicação de um decreto presidencial.
Em meio à repercussão da entrevista de Segovia, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) alertou que cabe à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pedir o arquivamento das investigações, e não à Polícia Federal. “As declarações desrespeitaram a própria instituição e seus subordinados. A Polícia Federal é um órgão de Estado, e não de governo (...). O trabalho policial tem de ser e deve permanecer técnico e independente”, diz nota da ANPR.