Imagine um esquema em que os criminosos lucram várias vezes, fora da lei e, também, dentro da lei. Era esse o golpe desmantelado nesta terça-feira (26) pela Polícia Civil gaúcha. A superquadrilha desarticulada era especializada em veículos e com eles fazia de tudo: desde venda picada (em peças) até clonagem do carro inteiro, além de comercialização legal de componentes automotivos e...surpresa! Compra de carros luxuosos, sem nenhum esquema ilegal, só para aplicar legalmente o dinheiro obtido com os crimes.
Tenho mais de 30 anos de cobertura em jornalismo criminal e nunca vi uma quadrilha tão sofisticada. Só em veículos e imóveis a Polícia confiscou 72, aí incluindo iates, lanchas e até automóveis esportivos que custam cerca de meio milhão de reais. É pouco?
Pois tem mais. Parte da quadrilha, a violenta, era composta de assaltantes e receptadores. Já outra parte era de comerciantes legalizados e operadores financeiros, que ganhavam salário, em empresas legais. As peças obtidas com os veículos desmanchados eram vendidas legalmente pela internet e numa rede de lojas em outros Estados. O dinheiro era lavado em Centros de Desmanche Veiculares (CDVs) autorizados, frotas de táxi, lotéricas, farmácias...o que entrasse de lucro retroalimentava o esquema de roubos, clonagens e desmanches. Um moto-contínuo do crime. Completado ainda por fraudes contra seguros, forjando falsos roubos.
É pelo tamanho do esquema que se tem uma ideia do esforço dos delegados Adriano Nonnenmacher e Joel Wagner. Foram meses de rastreamento, até completar o quebra-cabeças. Agora serão anos de trâmites na Justiça. Espera-se, com final compensador e uma pancada nas finanças da quadrilha.