O esquema criminoso desarticulado na manhã desta terça-feira (26) pela Polícia Civil na Operação Barão ultrapassava os limites de roubo, clonagem e revenda de veículos. A organização com mais de 60 integrantes, que ainda lavava dinheiro com mansões, carros de luxo, iates e empresas, também aplicava golpes em instituições e no comércio e lucrava por mês até R$ 800 mil.
Os criminosos possuíam uma frota de veículos e simulavam roubos e acidentes, bem como furtos de pertences dentro dos carros estacionados em shoppings. Além disso, também locavam automóveis e comunicavam falsas ocorrências, ingressando com pedidos de indenizações na Justiça após usarem documentos falsos para contratar seguros, que só tinham as parcelas iniciais pagas pela quadrilha. Até em enchentes os carros eram colocados para obtenção de indenizações.
Segundo o delegado Adriano Nonnenmacher, da Delegacia de Roubos de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), a primeira ação do grupo era o roubo de automóveis, principalmente em Porto Alegre, que depois eram clonados ou desmanchados. Os veículos e peças eram revendidos, inclusive pela internet, para 16 Estados.
A segunda ação era a lavagem de dinheiro, o que garantiu ao grupo um patrimônio avaliado em R$ 11 milhões — sem contar as contas bancárias bloqueadas. Foram apreendidos judicialmente veículos de luxo, mansões na Ilha da Pintada, na Capital, e nos litorais catarinense e gaúcho, além de embarcações e empresas.
A terceira ação era usar empresas em nome de pelo menos 20 laranjas para aplicar golpes em seguradoras, locadoras de veículos, shoppings, hipermercados e até no Poder Judiciário. A Polícia Civil identificou pelo menos 19 tipos de golpe diferentes, nos quais o grupo alternava os integrantes do grupo e as vítimas para dificultar as investigações.
Estelionato contra seguradoras
O delegado Joel Wagner, que também investiga o caso, diz que ocorriam oito tipos de estelionatos contra seguradoras:
Roubo simulado — o grupo simulava o roubo de veículos da própria frota de carros adquirida por meio da lavagem de dinheiro para ganhar indenizações de seguros. Eles ainda desmanchavam o carro, após o falso roubo, para venda de peças e obter ainda mais lucro.
Furto simulado — outro estelionato era simular furto de carro, quando a vítima não está presente, adotando as mesmas medidas criminosas.
Acidente simulado — o terceiro e quarto tipos eram a simulação de acidentes com os veículos da própria frota para obter consertos, devido a danos, ou então um novo veículo, devido a perda total. Já outros estelionatos, quinta e sexta formas de agir, eram idênticos aos anteriores, mas sequer era necessário forjar os acidentes: para isso, o grupo contava com apoio de funcionários de seguradoras e até de servidores de Centros de Registros de Veículos Automotores (CRVAs).
Benefício a amigos — o grupo também simulava falsos furtos ou roubos de carros de amigos e de clientes da organização.
Enchentes — por fim, a quadrilha também colocava veículos da frota em áreas alagadas para obter indenizações por meio de perda total.
Para cometer os crimes, o grupo contratava o serviço de diversas seguradoras do mercado brasileiro, pagando somente uma ou duas parcelas contratuais. Logo em seguida, cometiam a fraude, com envolvimento de responsáveis pelas vistorias, funcionários de empresas vítimas e de laranjas. Também utilizavam documentos e carimbos falsos de delegacias de polícia para a confecção de falas ocorrências.
Estelionatos contra shoppings
Nonnenmacher diz que eram dois tipos: furto de veículos ou de pertences nos veículos estacionados em shoppings ou hipermercados. Laranjas da organização criminosa deixavam os carros da frota nestes locais para outros laranjas levarem. O grupo ganhava indenizações de seguradoras ou dos estabelecimentos e ainda desmanchavam os automóveis para a venda de peças.
— Ganhavam duas vezes — diz Nonnenmacher.
Estelionatos contra locadoras de veículos
Basicamente, laranjas da organização criminosa locavam veículos e simulavam furtos ou roubos para depois desmanchar os carros e obter lucros com a venda de peças. Ou,então, locavam carros e informavam falsos acidentes envolvendo estes veículos e os da própria frota da quadrilha, com o intuito de obter indenização com perda total ou para consertos. Os veículos locados eram sempre apontados como os culpados pelos acidentes.
Também ocorria a compra de veículos sinistrados das locadoras, logo após serem locados por laranjas. No entanto, simulavam acidentes ou furtos e roubos. Eles tinham como meta ganhar indenização ou revender peças dos automóveis, muitas delas através de lojas virtuais.
Estelionatos contra o Poder Judiciário
Nos falsos furtos em shoppings ou em hipermercados, os laranjas acionavam a Justiça, através do Juizado Especial Cível, quando as empresas se negavam a pagar por falsos furtos ou roubos nos estacionamentos. Ocorrências envolvendo os próprios carros ou supostos objetos dentro dos mesmos.