O ambiente militar no Brasil anda agitado, sobretudo entre oficiais graduados que já estão na reserva. O motivo atende pelo nome Luiz Inácio Lula da Silva e a possível concessão de um habeas corpus que permita ao ex-presidente continuar livre, mesmo após condenação a 12 anos de prisão confirmada em duas instâncias.
A última manifestação foi do general de Exército Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, reservista, que já foi Comandante Militar da Amazônia e do Leste (região que abrange São Paulo e Rio). Ele disse que, se o Supremo Tribunal Federal permitir que Lula se candidate e se eleja presidente, não restará alternativa a não ser a intervenção militar.
"Se acontecer tanta rasteira e mudança da lei, aí eu não tenho dúvida de que só resta o recurso à reação armada. Aí é dever da Força Armada restaurar a ordem. Mas não creio que chegaremos lá", declarou, em entrevistas.
Foi o segundo militar influente a mandar recados esta semana, sem meios termos. O outro é o general Paulo Chagas, também da reserva, ligado ao grupo Terrorismo Nunca Mais (que defende feitos da ditadura militar) e pré-candidato a governador do Distrito Federal pelo PRP. "Nosso objetivo principal nesse momento é impedir mudanças na lei e colocar atrás das grades um chefe de organização criminosa já julgado e condenado", escreveu nas mídias sociais.
A fala desses generais de pijama encontra eco na caserna? Zero Hora ouviu dois generais da ativa, um de Brasília e outro do Rio Grande do Sul, ambos com milhares de militares sob seu comando. Sob anonimato (porque o regulamento militar impede que falem de política), eles admitem que o alto oficialato está mesmo contrariado com a possível garantia de liberdade a condenados. Não só a Lula, mas pelo fato de que o habeas corpus ao ex-presidente pode gerar libertações em cascata de presos por corrupção e até homicidas e assaltantes. Mesmo assim, ambos asseguram que não há qualquer mobilização nos quartéis com relação ao julgamento no STF.
– No máximo haverá aquartelamento de algumas forças, como a Polícia do Exército, para prevenir distúrbios e adotar Garantias da Lei e da Ordem (GLO). Nesse caso, prédios públicos são protegidos e distúrbios, dissolvidos. Mas sempre com autorização presidencial – ressalta o general sediado em Brasília.
O general do Rio Grande do Sul fala que, mesmo contrariados, os militares não planejam agir politicamente. Faz, porém, uma ressalva: a situação pode mudar se condenados em segundo grau forem mesmo candidatos. É o caso de Lula e também do presidente Michel Temer, que pretendem estar na disputa em outubro.
– A Lei da Ficha Limpa é clara: condenado por colegiado não pode concorrer. Esperamos que a lei seja respeitada e enquadre quem deve enquadrar. Do contrário o país ficaria de pernas para o ar – interpreta o militar.