A determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) de retirar das mãos do juiz Sergio Moro as partes da delação da Odebrecht relacionadas ao sítio de Atibaia (SP), que seria pertencente a Lula, e ao Instituto Lula caíram como ducha gelada sobre os procuradores da República que atuam na Operação Lava-Jato. Enxergam nisso manobra clara de esvaziamento das acusações. Mais incompreensível para eles, ainda, é a transferência da parte das delações referente à Refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, para um juiz de Pernambuco.
Afinal, a refinaria é da Petrobras - e, desde o início da Lava-Jato, todo dinheiro comprovadamente desviado da petroleira é objeto de ação judicial na 13ª Vara Federal de Curitiba. Ficou assim convencionado e desde então tem sido assim. Em alguns casos da refinaria já há condenação. "Agora, ao final do jogo, decidem que o juiz será trocado? Como assim, com a partida em andamento?", questiona um dos investigadores da Lava-Jato.
O mais antigo dos procuradores da Lava-Jato que atuam em Curitiba, Carlos Fernando dos Santos Lima, compartilhou trecho de uma notícia sobre o desmembramento das delações da Odebrecht que eram usados em processos em Curitiba. "Se o dinheiro para a reforma do sitio de Lula e a compra da sede do Instituto saiu da propina da Odebrecht para o PT em contratos da Petrobras, como é que a Segunda Turma pode dizer que o caso nada tem a ver com a Lava Jato e, assim, esvaziar os processos nas mãos de Sergio Moro?", questionou o procurador da República, na sua conta no Facebook.
Para o MPF, o pior revés é no processo do Instituto Lula, já que nesse caso toda a propina atribuída pelos procuradores a Lula (R$ 12 milhões) teria sido paga pela Odebrecht - e, agora, a delação vai para novo juízo, com novos prazos. Esse é o processo judicial mais adiantado e que pode ser reiniciado.
Os investigadores da Lava-Jato consideram a retirada da delação da Odebrecht um golpe, mas não fatal. Isso porque existem outras delações que falam a respeito de favores prestados a Lula, em troca de benefícios concedidos por seu governo a empreiteiras. Além da Odebrecht, há depoimentos de dirigentes das construtoras OAS e Schahin falando que o sítio em Atibaia foi reformado para o ex-presidente como um presente pelas benesses alcançadas em seu governo. A propina paga por essas duas empreiteiras ao ex-presidente, no caso do sítio, teria sido de R$ 1,2 milhão, conforme a acusação do MPF.
Já os advogados de Lula ganham a chance de questionar todos os processos que estão com Moro. Basta convencerem a 2 ª Turma do STF de que as acusações nada têm a ver com Petrobras.