A população brasileira é majoritariamente a favor da pena de morte. Tenho vários amigos que compartilham dessa opinião e eu próprio fico tentado a aderir, quando vejo um crime bárbaro cometido e o criminoso, solto. Mas é sempre bom usar o cérebro e não o fígado, quando o assunto é punição. O caso do ritual satânico que teria levado ao esquartejamento de duas crianças em Novo Hamburgo é exemplo disso.
Cinco pessoas foram presas, suspeitas de cometer os assassinatos. Menos de dois meses após a prisão, a própria Polícia Civil investigou o inquérito e concluiu que não há provas. E agora? Talvez um dia os policiais cheguem a um esclarecimento, mas os juízes irão pensar bastante em dar novas ordens de prisão, nesse caso.
Fosse em alguns países com trâmite judicial rápido — em alguns pontos do Oriente Médio, assassinatos costumam ser julgados veloz e ferozmente — talvez os suspeitos do suposto ritual satânico já tivessem sido executados. E não adianta chorar depois do erro, os condenados não voltariam à vida.
O caso lembra em muito um episódio nos EUA conhecido como "Os Três de West Memphis". Em 1993, três escoteiros com oito anos de idade, moradores do Estado do Arkansas, foram assassinados. Os corpos de Steven Branch, Christopher Byers e James Michael Moore foram encontrados amarrados e mutilados. A suspeita era de ritual satânico.
Após rápida investigação, três jovens foram presos como supostos autores da chacina: Damien Echols, Jason Baldwin e Jessie Misskelley Jr. Os três eram fãs de ocultismo e heavy metal, mas viviam no chamado Cinturão Bíblico dos EUA (região extremamente religiosa). A polícia disse que eles confessaram os crimes.
Na Justiça, disseram terem sido interrogados brutalmente durante 12 horas ininterruptas, até fazerem a confissão, sem presença de advogados. Mesmo com a negativa, foram condenados. Baldwin e Misskelley, que tinham apenas 16 anos, foram sentenciados à prisão perpétua. Echols, então com 18 anos, foi condenado à morte.
Em 2007, exames de DNA isentaram os três de terem cometido assassinato. Mesmo assim, eles só foram libertados em 2011 — passaram 18 anos na cadeia. E se a sentença de morte tivesse sido aplicada? Bom pensarmos nisso, antes da pressa em sugerir pena capital num país como o Brasil.