Áudio interceptado pelas polícias gaúchas indica que pode não ocorrer nem banho de sangue, nem quebradeira nas ruas, após a transferência de 27 líderes de quadrilhas do Rio Grande do Sul para outros Estados. A orientação passada aos seus comandados por um dos mais experientes líderes da mais antiga e organizada facção criminal do Rio Grande do Sul fala que o momento é de calma e reunião de dinheiro para ajudar os "irmãos" que foram removidos para outros Estados. O homem, um assaltante de bancos condenado a dezenas de anos de prisão, abrigado na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), divulgou no último fim de semana um Salve Geral, via SMS e WhatsApp, devidamente monitorado pelas autoridades. Quatro delegados consultados por Zero Hora confirmaram que a voz é mesmo do bandido.
Salve Geral é uma convocatória para todos os integrantes da facção, obrigados a seguir aquela orientação. Via de regra, são ordenadas represálias a alguma contrariedade vivenciada pela quadrilha. Foi o que ocorreu em São Paulo por três vezes, em 2006, quando o PCC ordenou assassinato de mais de 100 agentes de segurança, incêndios em ambulâncias, explosões de bombas em bancos – tudo em reação ao isolamento de seus líderes. As polícias reagiram e mais de 300 pessoas acabaram mortas em semanas, na guerra entre forças da lei e o submundo.
A ser julgar pela gravação, nada disso vai ocorrer agora no Rio Grande do Sul, segundo o líder dos assaltantes. Ele convoca as "lideranças das quebradas" – gente de Cachoeira do Sul, Santa Cruz do Sul, Lageado, Pelotas, Canoas, Rio Pardo e cidades fronteiriças, como Pedro Juan Caballero e Ciudad del Este, no Paraguai – a não tomarem "qualquer atitude precipitada sem meu conhecimento". O bandido também solicita contribuição de todos para ajudar financeiramente os criminosos que foram transferidos.
– Tem de alugar casa para as visitas, arranjar dinheiro para hospedagem, eles precisam ter apoio dos familiares deles, longe daqui – pondera ele.
O líder dos assaltantes fala de aliança com a maior facção criminal do país (paulista) e diz que "os irmãos" não devem agir contra mafiosos: contrabandistas de cigarro e bicheiros. "Nem contra policial, eles têm família, assim como vagabundo tem família", pondera o bandido. A exceção é se forem atacados em episódios sangrentos, ressalva.
É suficiente para tranquilizar as autoridades? Não. Primeiro, porque pode ser um blefe. Depois, porque no mesmo manifesto o bandido insinua uma trégua com as outras facções. Como se estivessem se preparando para agir conjuntamente? Talvez. Cabe aos guardiões da segurança impedir que o crime se organize mais que a polícia.