Mesmo que se disponha, Eduardo Cunha terá muita dificuldade em ser aceito como colaborador premiado da Justiça Federal. É que ele é investigado em sete episódios diferentes, em crimes envolvendo milhões – de reais e de dólares – e casos de muita gravidade. Tão graves que os investigadores que atuam na Operação Lava-Jato preferem ver o deputado cassado na cadeia, antes de imaginar qualquer possibilidade de acordo com ele.
Essa é a disposição que Zero Hora conseguiu captar junto a alguns integrantes da Lava-Jato. Ao contrário do que muita gente pensa, o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF) não aceitam acordo com qualquer um. A primeira regra é que ele tenha algo importante a revelar – quanto a isso, não restam dúvidas de que Eduardo Cunha é um peixe grande. A segunda regra é que o candidato a delator seja punido de alguma forma. Lógico que alguns oferecem a colaboração antes de serem presos, para escapar da cadeia. Mas o ex-presidente da Câmara Federal encarna a tal ponto os pecados da corrupção na política que os investigadores tendem a dizer: "Não, obrigado, falamos depois que o senhor for condenado".
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É crucial para procuradores e policiais mostrarem que inclusive para réus com foro privilegiado o crime não compensa. Mesmo. Agora praticamente sem foro especial (talvez algum caso permaneça no STF), Cunha pode esperar rigor inaudito contra si.
Cunha, até agora, escapou da Justiça, mediante o rico arsenal de recursos que réus milionários têm a seu dispor. O problema, para ele, é que são vários os fronts a combater. Ele corre sério risco de responder a processos simultâneos em Brasília, Rio de Janeiro e Curitiba. Mesmo que um dos magistrados (ou ministros do STF) resolva aceitar sua delação premiada, isso não significa que outro juiz fará o mesmo. Ou seja: Cunha pode virar delator numa cidade, mas réu comum em outra. Isso depende do perfil do julgador. Alguns juízes sequer trabalham com a hipótese de colaboração premiada. Cunha deve torcer para não cair na mão de algum deles. Aí, nem depois de ser preso sua delação teria valor.
Quem conhece Cunha diz que ele tentará acordo para salvar sua mulher Cláudia Cruz e a filha. Quem conhece os procuradores aposta: se depender disso, o acordo não sai.